sábado, 9 de junho de 2012

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Lendas...


Atrasado. Irresponsável. Desapegado. Esses três adjetivos são justos quanto ao meu comportamento nos últimos dois dias e não vai ser eu que vai quebrar a escrita bem prezada por Sharapova (hoje tem que falar dela, não tem como!) de arrumar desculpas para justificar tal sumiço deste espaço. Tudo o que posso fazer é me redimir com um belo e exaustivo pedido de desculpas e encarar o enorme desafio de resumir a minha jornada nessas últimas 48 horas. Não vai ser fácil!

Relembrar tudo é uma utopia, até para quem não está na minha pele. E, para mim, que viveu as últimas horas (fora as que eu tenho para repousar o corpo cansado) no complexo de Roland Garros, o mais justo é falar de tênis. Me desculpem àqueles que me acompanham por viver o “diferente” do esporte. Hoje, vão ter que imaginar o “diferente” dentro dele. E, sim, isso é possível!

Neste sábado, Maria fez história na França. A musa chegou ao sonhado título de Roland Garros
Falar das semifinais pouco inspiradas de Nadal x Ferrer e, por incrível que pareça, de Djokovic x Federer (a qual achei que seria, de longe, a melhor partida do torneio – assim como aconteceu em 2011) é pouco e totalmente vazio para um tempo tão precioso. Para falar a verdade, os dois jogos citados “pouco” me atraíram e fiquei mais tempo na modesta quadra 2 do que qualquer outra. Ali mesmo, conversei com o grande Larri, que acompanhou de perto e cheio de lágrimas a pupila Bia Haddad chegar à final da chave de duplas no juvenil. Para se ter uma ideia, a menina de apenas 16 anos foi a terceira mulher do País a alcançar uma decisão de um torneio Major. O gaúcho não aguentou a emoção. EU me emocionei ao vê-lo emocionado, chorando, relembrando tempos áureos de Guga, o último a erguer um troféu aqui tanto no profissional (TRÊS vezes, por favor!) quanto no juvenil – em 94, foi campeão nas duplas ao lado de Nicolas Lapentti.

“É fruto de dedicação. O que estou trabalhando com essa menina é brincadeira. Lembrar que, em 97, estive aqui e vi o Guga vencer e agora estar aqui com a Bia é algo que me deixa assim”, falava Larri, claramente se segurando nas palavras.

Foram poucas palavras, mas muito prazer, Guga!
Quando volto ao reduto dos outros trabalhadores deste evento, levo um susto. Um “mané” de cabeleira conhecida sobe as escadas para a Chatrier. Não! Será? Vou conferir. Subo de dois em dois degraus e, de repente, não acredito. O irmão de Rafael, aquele que fez história no saibro aqui, que foi número 1 do mundo, o cara que me fez abrir as portas para o esporte pelo qual vivo minha vida está a um metro de distância. E eu? “Fala, Guga. Beleza, cara?”, arrisco. O que? Isso é coisa para se dizer para o cara que te inspirou a vida inteira? Antes de me xingar mentalmente, tenho certeza de que as poucas palavras aliadas a um sorriso maroto foram a arma certa para um começo de diálogo. “Tudo bem, cara. E você, tudo certo?”, responde o catarinense. Antes de me dirigir novamente, já entendo que o novo garoto-propaganda da Lacoste tem uma série de compromissos a cumprir. É pra TV francesa, é pro Brasil, é pra não sei onde. Incrível como valorizam o menino que pôs o nosso País no mapa do esporte!

Não posso deixar de mencionar outras lendas que tive o prazer de acompanhar a poucos metros de mim – coletiva do polêmico e também gênio John McEnroe, em que crê que Djokovic está sentindo a pressão por ter que vencer quatro Grand Slams consecutivos, a francesa Amelie Mauresmo, ex-número 1 do mundo, uma partida-exibição do croata Goran Ivanisevic, do sueco Thomas Enqvist, do gênio australiano Todd Woodbridge, que ainda mostram um bolão, e, é claro, a verdadeira enciclopédia ambulante Martina Navratilova, campeã de nada mais nada menos do que 59 Majors. Devem haver outros que não mencionei, mas os anteriores já explicam por si só cada momento precioso nesse torneio...

Tempinho para curtir com os amigos no jantar da imprensa - Robert (meio) e Karl (dir.)
Um intervalo na quinta-feira à noite para comemorar com os colegas de trabalho a festinha da imprensa em Roland Garros. Com direito a nome na lista. MARTINS FONTES, Matheus. Parece que já virei referência bibliográfica. Até parece... Jantar nem pensar. O que tem são petiscos (para mim, tranqueiras para forrar o estômago!) e bebidas. Cerveja aqui não curti muito, fiquei revezando com vinhos e champanhe. Meu amigo Robert – o fotógrafo húngaro – revelou ser mais fraco de bebida do que eu. E ai, hein? Quem é o “juvena” agora?

Tive o prazer de finalmente conhecer melhor o também “lendário” Chiquinho Leite Moreira. Esse sujeito também entende tudo de tênis e já cobre o Slam do saibro há décadas. Abriu as portas para a nação brasileira na cobertura do esporte.. e isso muito antes de Guga aparecer! Entre uns goles e prosas com os divertidos amigos argentinos, sou um dos últimos a sair de pé dali. Nada mal para o principiante...

No “quase” de Bia na decisão de hoje, ficou a lição de que o País pode, sim, ter mais lenha para queimar na modalidade. A menina, fã de Petra Kvitova e que se espelha, é claro, no ídolo Guga, é focada e está em boas mãos definitivamente. “Meu objetivo é ser a melhor do mundo no profissional”, disse. Loucura? Viajou na maionese? Não sei. É cedo demais para falar. Mas ver o que vi na quadra e com os “berros” do turrão da arquibancada, já vi um menino desengonçado lá de Floripa aprontar uns estragos assim...

Larri esteve a semana toda apoiando Bia. A jovem de 16 anos fez história para o Brasil em Paris
Confesso que cheguei a pensar que não veria a final feminina por conta da entrevista com Bia. Cheguei e Maria já estava bem à frente. Como foi ao longo deste torneio. Contestada no saibro (até por mim, confesso!), a grandona mostrou nítida melhora na movimentação para quem tem 1,88m, agilidade e não deu chance para as rivais. Na decisão, a pequenina e guerreira Sara Errani fez o que pôde, mas muito pouco para tirar a coroa da nova número 1 do mundo.

Se é pretensão demais comparar Sharapova com outras lendas do esporte, não é errado em dizer que a russa provou que pode, sim, vencer em qualquer tipo de piso. Seja na grama, no cimento, na terra, o resultado se mostrou o mesmo em, pelo menos, uma oportunidade – os joelhos da musa, sujos de terra neste sábado, são fruto de uma carreira marcada pela garra, competência e superação. Garra de nunca se contentar em ser segunda; competência de admitir que não é uma jogadora completa, mas sabe muito bem usar suas armas dentro da quadra; e superação por acreditar que, mesmo depois de uma séria lesão no ombro, ainda há chances de reeditar grandes momentos. Lenda ou não, Maria marcou seu nome na história e, pelo que demonstrou (e falou!), está longe de se dar por satisfeita.

Satisfeita? Longe disso, afirmou Sharapova
Neste domingo, qualquer que seja o resultado, Novak Djokovic ou Rafael Nadal farão história na Cidade-Luz. Aos mais leigos, caso Nadal vença, tornar-se-ia o maior campeão no torneio francês – com sete conquistas, ultrapassando o sueco Bjorn Borg. Se Djokovic conseguir o feito de ser o segundo jogador a bater Rafa no saibro parisiense, o sérvio, assim como Sharapova, fechará o Grand Slam – vencer os quatro Majors do circuito. Foi por isso que escolhi cobrir esse torneio. Para contar essa aventura. Parece que me vejo em janeiro, planejando minha viagem com meu pai. Era imaginando ver um cenário assim. Único. Histórico. Perfeito.

E, mesmo que o campeão seja definido apenas na segunda-feira – há grandes chances de chover amanhã -, já será inédito nos últimos anos. Com ajuda da organização, fiquei sabendo que o romeno Ilie Nastase bateu o iugoslavo Nikola Pilic numa terça-feira apenas em 1973.

Quer mais? Só vivendo... e tendo tempo para contar! 



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
09/06/2012 

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