sábado, 22 de setembro de 2012

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Sem moleza na volta!


Brasil voltou à elite da Copa Davis após vitória por 5 a 0 contra a Rússia

Por Matheus Martins Fontes

Pouco mais de nove anos depois do fatídico confronto diante do Canadá no carpete de Calgary, em que saímos derrotados por 3 a 2 e começaríamos, ali, um longo processo de reestruturação do tênis nacional, estamos novamente na elite da Copa Davis. A fácil e esperada vitória contra o obsoleto time do “czar” Shamil Tarpischev no saibro de São José do Rio Preto colocou de volta a equipe canarinha no primeiro pelotão do torneio entre nações. 
Estar novamente no bolo dos 16 melhores times do mundo já era algo que o grupo de João Zwetsch estava merecendo e tinha batido na trave nos últimos seis anos, com direito a reveses frustrantes, como contra o Equador em 2009, jogando em Porto Alegre, e diante da Índia no ano seguinte, quando Thomaz Bellucci e Cia chegaram a liderar o confronto por 2 a 0.
Porém, o que se viu no Harmonia Tênis Clube foi um baile – a Rússia não veio com seus dois principais jogadores da atualidade – os veteranos Mikhail Youzhny e Nikolay Davydenko, os quais já pintaram no top 10 há algumas temporadas, não viajaram ao interior paulista. Pretexto? Bom, segundo as palavras da tradutora do time (muito fraca, por sinal), “não tinham condições físicas de atuar sob o forte calor de Rio Preto”. Estranho, já que os dois haviam disputado o US Open uma semana antes, praticamente nas mesmas condições de temperatura. “Mas perderam”, lembrou o capitão russo sobre o fraco desempenho dos mesmos no torneio americano.
Ora, a equipe formada por Alex Bogomolov, Igor Andreev, Teymuraz Gabashvili e Stanislav Vovk (o último não jogou o Grand Slam em Nova York) não tinha feito muito melhor – todos perderam na estreia do Aberto dos EUA. Então, mais “migué” que essa desculpa, foi o fato dos tenistas europeus não responderem se concordavam com uma mudança na comissão técnica do país logo depois do desfecho do embate. Quem cala, consente. Não é?
Desfalcada, Rússia não deu trabalho para o Brasil em São José do Rio Preto
Tarpischev já está há muito tempo no comando do time na Copa Davis, na Fed Cup (edição feminina) e é presidente da Federação Russa de Tênis. Tudo bem que o maior sucesso da nação na modalidade veio na última década, com dois títulos na competição masculina e quatro na feminina durante a sua gestão. No entanto, já faz tempo que não aparece um novo expoente entre os homens, aliás a nova geração russa vive estagnada e os que arriscam um brilho “pulam o muro imaginário” e buscam a naturalização pelos países que nasceram da ex-URSS, como o Cazaquistão, que está no Grupo Mundial em 2013. Nem parece de longe aquele esquadrão fortíssimo com Yevgeny Kafelnikov, Marat Safin e os próprios Youzhny e Davydenko.
Os 5 a 0 comprovaram que o Brasil, mesmo sem um número 2 de simples constante e polivalente em qualquer superfície, tem lugar no Grupo Mundial. Havia uma grande expectativa pelo sorteio da Federação Internacional de Tênis (ITF) na última quarta-feira. O time tupiniquim tinha chances de atuar em casa e até um confronto diante da atual campeã Espanha, de Rafael Nadal, seria comemorado. Ou contra a Sérvia de Novak Djokovic (caso cruzássemos contra os sérvios, seria necessário outro sorteio para definir a sede do duelo). E até alguns dos confrontos possíveis fora de casa eram aguardados. Afinal, um Brasil e Argentina não significa rivalidade pura apenas dentro dos campos.
Dupla brasileira tem vantagem contra os Bryan
Mas acho que ninguém esperava ou queria, acho que o último verbo é a melhor definição, um confronto diante dos EUA. O time brasuca venceu apenas um dos quatro confrontos que realizou contra os maiores campeões da Davis (total de 32 vezes) e isso aconteceu em 1966.
Naquele duelo, Thomaz Kock e Edison Mandarino jogaram a favor do público na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, e bateram o fortíssimo quarteto formado por Arthur Ashe, Cliff Richey, Charles Passarel e Dennis Ralston por 3 a 2. Nos outros três confrontos – Forest Hills/1932, Boston/1957 e Ribeirão Preto/1997 –, foram os americanos quem sorriram no final. E, como o último duelo aconteceu no interior paulista há 15 anos, os brasileiros terão que viajar em fevereiro.
Diria que é um confronto chato, já que, além dos EUA atuarem diante da sua torcida e num piso rapidíssimo como de costume, seus “soldados” não dão ritmo em quadra. Provavelmente, a equipe comandada por Jim Courier – ex-jogador que atuou no confronto em Ribeirão – virá com John Isner e Mardy Fish/Sam Querrey nas simples e os irmãos Bob e Mike Bryan para as duplas. A análise é muito simples.

RETROSPECTO
Thomaz Bellucci (BRA) lidera 1x0 contra John Isner (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) 0x0 Mardy Fish (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
Ricardo Mello (BRA) empata em 1x1 contra John Isner (EUA)
Mardy Fish (EUA) lidera 2x1 contra Ricardo Mello (BRA)
Ricardo Mello (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
Mardy Fish (EUA) lidera 1x0 contra Thiago Alves (BRA)
Thiago Alves (BRA) 0x0 John Isner (EUA)
Thiago Alves (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 John Isner (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 Mardy Fish (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)

Isner, 11º do ranking, tem 2,06m e seu saque numa quadra veloz, como deverão indicar para o embate em 2013, fará estrago no time brasileiro.  Fish ou Querrey também não fogem à risca. Se os seus serviços não são eficientes como os do seu compatriota, os mesmos são capazes de colocar pressão para quem está do outro lado da rede. E precisa falar alguma dos irmãos gêmeos? Melhor dupla da atualidade (e da história!), 12 títulos de Grand Slam, medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres... O currículo assusta e intimida o banco brasileiro.
Ainda é muito cedo para definir quem estará em quadra entre 1 e 3 de fevereiro, porém Thomaz Bellucci, Marcelo Melo e Bruno Soares, ao meu ver, não perdem seus lugares. A incógnita, como vem sendo um dilema nos últimos anos, é a seguinte – e o nosso segundo simplista? Nessa temporada, Feijão e Rogerinho tiveram suas chances. Apenas o segundo aproveitou, porém as partidas aconteceram no piso lento, muito diferente do que acontecerá na próxima temporada.
Minha opinião, apesar de ser precipitada a essa altura, é que Thiago Alves, Feijão ou Ricardo Mello devam disputar o segundo posto na equipe de João Zwetsch. E com uma equipe com Bellucci, Alves/Feijão/Mello, Melo e Soares, o País ainda é inferior ao time americano. Nossas chances dependerão, como sempre, em Thomaz e na parceria brasileira.

PALPITE DO SONHADOR (!?!)
EUA 1x3 BRASIL
Thomaz Bellucci (BRA) d. Mardy Fish ou Sam Querrey (EUA)
John Isner (EUA) d. Thiago Alves/Ricardo Mello/João Souza (BRA)
Marcelo Melo/Bruno Soares (BRA) d. Bob Bryan/Mike Bryan (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) d. John Isner (EUA)

É claro que o melhor seria um 2 a 0 para nós ao término da sexta-feira, mas sejamos realistas e um 1 a 1 já estará muito bom, acreditando que Bellucci confirme o favoritismo sobre o número 2 deles – Thomaz nunca enfrentou Fish ou Querrey. O sábado reservará o grande ponto-chave para nossa equipe. Por mais que os Bryan assustem, Melo e Soares possuem um retrospecto favorável contra os americanos – 2 a 1 no circuito profissional. Mas vencê-los em sua casa é uma tarefa das mais indigestas e que ninguém, em Copa Davis, ousou a fazer antes. Será?
Na melhor das hipóteses, Bellucci precisaria vencer os dois jogos contra os EUA em fevereiro
Com um triunfo dos mineiros, Bellucci entraria no domingo com a responsabilidade de fechar o confronto. Mesmo que o aspecto mental não seja o dos mais fortes do brasileiro, ele tem provado sua evolução no torneio e confirmou as expectativas quando foi preciso diante da Colômbia e Rússia. E contra Isner, o paulista tem 1 a 0 a seu favor. Tudo bem que o jogo aconteceu no saibro, mas serve como fator de motivação.
Empenho e garra não vão faltar ao time de Zwetsch, isso tenho certeza. A questão é que se isso vai ser suficiente para aprontarmos a maior zebra da primeira rodada do Grupo Mundial no ano que vem. Em relação ao nosso número 2, o início do ano – principalmente o desempenho no Aberto da Austrália – será decisivo para indicar o escolhido. É bom ficar de olho desde já em Alves, Mello e Feijão. Tomara que todos (ou talvez algum outro que surpreenda com uma arrancada surpresa nesse final de 2012) mostrem bom nível nesse período e deem uma “bela dor de cabeça” para Joaozinho. Ficou difícil, mas nossa equipe é de elite. Se nos subestimarem, é bom negócio. Vamos torcer! Que venham os EUA!!

Fotos: Luiz Pires/FOTOJUMP

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