15:23 -
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Grand finale
Dois dias de final. Quinze horas de voos. Prazo para
entrega de matérias. Fuso horário. Ufa... descanso! Estou novamente no Brasil e
curto as poucas horas que me restam de “miniférias” merecidas do trabalho, da
faculdade, da vida! Porque o que foram esses 23 dias, hein? Já demorei demais
para escrever sobre o desfecho da viagem. E que desfecho! Vamos lá!
Dimanche.
Em português, “domingo”. Tudo começou com mais um passeio pelo subsolo
parisiense, naquele que seria o último até Porte D’Auteuil. A princípio. Ao
sair da estação, o céu encoberto já me dava um frio na espinha e relembrava o
que Chiquinho havia me dito na festa de quinta: “Essa final vai pra segunda!”
Não!!!! Não pode ser! Não era a preocupação por ter que ir embora no domingo.. A
passagem era pra terça-feira! Talvez nisso eu tive sorte. Mas porque o cansaço
já era algo nítido. “Que acabe hoje”, desejava. Em vão.
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| A poucos metros de mim, Nadal fez história em Paris |
Chegara na hora certa. Tribuna quase lotada para ver o
clássico decisivo dos últimos quatro Grand Slams – de um lado um espanhol
querendo derrubar mais um tabu e provar ao mundo que, pelo menos nos números,
nunca haveria alguém igual no saibro; o outro buscando provar que é, sim,
possível ser o melhor em todos os maiores torneios do circuito de forma
consecutiva. Afinal, nem Federer, nem Sampras, nem ninguém igualou a marca de
Rod Laver, em 1969.
Falar que Nadal era simplesmente imbatível na terra foi
algo que sempre entendi vendo pela televisão, as imagens não mentem. Mas vê-lo
ao vivo é outra coisa. Você, concretamente, entende o porquê de ele derrubar um
por um, de desestabilizar seus rivais aos poucos – e se engana quem fala que o
ibérico só se baseia na defesa. Consistência, meus caros. Acho que, na minha
modesta opinião de novato, é a palavra que o define. Djokovic, coitado, fazia o
que podia. Meu colega Elcio, da Radio França, soltava: “Pô, mas o Djoko tá
errando demais!”
É verdade. Mas reflitam – o que faz um tenista errar
demais contra um tenista como Nadal? Falta de paciência? Displicência? Não. Um
jogador, da categoria do sérvio, é apenas mais um que acusa o golpe diante de
um superatleta como Rafa, o qual sempre faz o adversário sempre ter que vencer
cada ponto, nunca entrega bolas de graça, força o oponente a procurar mais as
linhas, porque, caso contrário, ele chega. E como chega – com condições de
passar como ninguém! O descontrole é algo que eu próprio sentia ao ver Djokovic
sem respostas. Foi a história dos dois primeiros sets, o sérvio lutava, a
torcida apoiava (em sua maioria!), mas, no fim, Nadal sempre tinha a cartada na
manga. O “Djoker” estava entregue? Sim, parecia.
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| Djokovic foi um dos 7 que tentaram.. em vão parar Nadal! |
No terceiro set, Rafa já derrubava o saque de Nole.
Dirigi-me à cadeira de Elcio: “Xi, agora acabou!” E o tempo já parecendo
fechar, não tive dúvidas de que um triunfo do espanhol era uma questão de
tempo. Como emendei depois: “Era inevitável”. Queimei a língua. Djokovic
devolveu a quebra e, numa reação quase que impecável, anotou oito games
seguidos. Ou seja, de 0/2 fez 6/2 no terceiro e já abria 2/0 com quebra na
quarta parcial. É possível? Antes de qualquer resposta a essa última dúvida, o “outro”
inevitável decidiu dar os ares – a chuva. Incessante até parar. Por volta das
20h locais. Poderiam até voltar. A organização, no entanto, não deu o braço a
torcer. Primeira decisão em 39 anos que seria definida na segunda-feira. Quem
disse que em terra de francês não há espaço para o Tio Sam? (há quatro anos, a
final masculina do Aberto dos EUA é jogada na segunda!).
De volta ao hotel debaixo de chuva. Mal dá tempo para
dormir e já volto de manhã. Não há chuva, porém o tempo não é dos melhores. A
tribuna nem está tão cheia assim, mesmo acontecendo nas arquibancadas, afinal
alguém precisa trabalhar fora das quadras de segunda, não? Não entendo a
imprensa. Na verdade, compreendo. “See
you at Wimbledon”, é a frase que mais ouço dos que teimam em ir. Respeito,
mas não concordo. Esse jogo é um marco para o tênis. Não haverá outro dia! E
nem quase deu tempo.
Nadal, como sempre uma pilha, voltou melhor para o jogo
e devolveu a quebra, mantendo o equilíbrio do set. No 5/5, “ah, não”, soltei.
Começava a chover novamente. E eu, sem papas na língua: “Essa por#%$ vai acabar
hoje!” Os argentinos eram uma risada só. Os ingleses olhavam com desprezo.
Bem-vindo ao Brasil, camarada! O mau tempo não é suficiente para a interrupção.
O jogo volta, Djokovic levanta da cadeira, mas não “volta”. Nadal, pelo contrário,
vai, volta e espera. O público também.
O momento daquele 30/40, daquele match point, daquele
silêncio ensurdecedor... Juro que nunca deu para ouvir tão bem o som da bolinha
tocando ao chão mesmo a 100 metros de distância! Arrepiou-me. No momento em que
pensei que tudo aquilo estava próximo de acabar. E acabou! Dupla-falta? Não interessa.
Juro que me levantei e aplaudi o gênio que se formara naquela quadra. O
cumprimento na rede com o rival. Depois o juiz. A glória com a torcida. O
choro. O abraço. O carinho. O reconhecimento. O mostro.
Para os amantes do tênis, é impressionante ver o reinado
de Rafa em Paris. 52 vitórias e apenas uma (!!!) derrota. Sete títulos em
Roland Garros. Uma lenda. O hino espanhol (muitas vezes lembrado por mim das
vezes em que acompanhei Fernando Alonso mostrando a Michael Schumacher que a
Fórmula 1 tinha também lugar para outros “mortais”) e a feição de Nadal no
telão. Juro, me emocionei. Era como se eu estava recebendo aquele troféu
mágico.
Fiquei tanto na neura que não aguentei e visitei pela
primeira vez o palco de tudo aquilo. Onde vi a história ser escrita nas poucas
páginas em branco do livro dos recordes. Caminhei sobre aquela terra, sabia que
não havia nenhuma diferença (nítida) entre aquele pó de tijolo e o das quadras
perto da minha casa. Porém, é inegável que o cenário tem o poder de transformar
tudo. As lembranças. O início. O meio. Por vez, o fim. Que saudades vou ter.
Até de Robert, que fez o favor de tirar a minha última foto. Com a bela e
agradável Suzanne Lenglen ao fundo. Köszönöm,
barátom!
| Um último adeus... foi tão bom enquanto durou! |
Na saída, já viro a esquina a caminho do metrô e já
perco de vista a cobertura da Chatrier. Pois é, foi bom enquanto durou! Um
blecaute em uma das estações não me tirou a adrenalina ainda daqueles momentos.
Consegui chegar, com atraso, até o destino por mais uma vez e deu tempo até
para uma última refeição decente. O restaurante italiano foi o escolhido. Um
vinho para acabar com chave de ouro, já que a frustração de não ter conhecido a
bela Torre Eiffel nas alturas ainda me corta o coração. Ofícios da profissão!
Sem mais...
Mala pronta (e que mala!) e me despeço do porteiro ao
meio dia exato! Metrô, baldeação, RER e Charles de Gaulle. Como me dá emoção na
janela do avião. Chuvinha que me deu boas-vindas me dá o prazer da despedida.
Na companhia, os pais do juvenil Hugo Dojas (Leandro e Maria) me confortam por
toda a duração do voo até Frankfurt.
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| Que viagem! Tão rápido passou e Brasil novamente. Merci beacoup, Paris! |
Como me disseram, comprovei mesmo: “Que aeroporto
gigante na Alemanha!” Até o horário do embarque de volta, me sinto em casa.
Vários brasileiros aguardam por voos para o Rio e São Paulo. É gente de Belém,
Brasília, São Paulo, Curitiba, Salvador... 12 horas e meia. Novamente num
cubículo, assim como na ida, mas com melhor companhia! “Ladies and gentlement, welcome to São Paulo!” Nunca foi tão bom
ouvir essa frase!
“Bem-vindos a São José do Rio Preto!” Nem acredito. Como
passou rápido. Tão longe, tão perto. O sonho se tornara realidade. Tive o
prazer de estar com pessoas importantes, influentes e até hegemônicas no
cenário internacional. Considero-me um privilegiado. Uma viagem que jamais
esquecerei. Assim espero, porque, assim como há 23 dias, ainda estou aqui!
Por Matheus Martins Fontes
De São José do Rio Preto (Brasil)
15/06/2012



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