terça-feira, 5 de junho de 2012

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Lições...


Blusa na bolsa. Boa, a primeira meta do dia já foi cumprida. Frio... no more! Assim que boto o pé na rua às 9h46m, um sol de rachar. Não reclamo da “má sorte” de, agasalhado, pegar calor. Pode mudar. E vai mudar! Metrô, baldeação, troca de linha, já estou craque. Há muito tempo..

Dessa vez não erro a quadra. Vou direto na 14 ver o promissor Thiago Monteiro. Canhoto, firme dos dois lados. Centrado esse cearense de Fortaleza. Do meu lado, nada mais nada menos do que Larri, técnico do menino. Atento, o gaúcho, que levou Guga ao posto de número 1 e que ainda hoje carrega, de certa forma, esse peso, parece viver o jogo mais do que o garoto em quadra. Normal, era assim com o “manezinho da ilha”.

Bons tempos em que Guga e Larri davam tanta alegria para o Brasil!
Soltava de vez em sempre uns “judia dele, Thiago”, “tá bom vai”, “é essa a bola que eu gosto”, “spin nele”... Que presença! É com caras desses que a gente tem que aprender – a observar, analisar, trabalhar e, no último caso, avaliar. Minutos depois, uma multidão se aproxima. Eu vejo na quadra ao lado Toni Nadal, tio e treinador de Rafael. Sim, o homem vai treinar ali. A arquibancada da quadra de Thiago se transforma em uma passarela do cinema, todos querem conferir de perto o ídolo. Até Aimar Matarazzo, esqueci de comentar, não resiste!

Confesso que, de tantas coisas, me passou despercebida a presença do presidente do Harmonia Tênis Clube, clube que receberá os Playoffs da Copa Davis em setembro contra a Rússia. Na minha cidade! Tá bom, parei... Enfim, um bom papo com o amigo e já avisto outro dirigente importante – o senhor Jorge Lacerda, presidente da Confederação Brasileira. De uma vez, Larri, Aimar e Jorge... Melhor companhia não há para um dia!

É incrível como Jorge é uma grande pessoa. Nem falo que sou jornalista, mesmo com a credencial estendida no peito. Conversamos por minutos, acompanhando os jogos dos outros juvenis. No momento em que Bia Haddad e Laurinha Pigossi, duas promessas no feminino, jogam em quadras complementares, já aviso Jorge: “Você vê daí que eu acompanho daqui!”

Visão da imprensa na quadra Suzanne Lenglen para duelo entre Federer x Delpo!
Larri, mentor de Bia também, está lá. Uma figura. Reclama do juiz de linha com marcações duvidosas: “Ah não, caralh#@$”, “vai ver a marca, Bia” e não deixa de elogiar jogadas da menina de apenas 16 anos – “Olha que tênis, presidente. E tem gente no Brasil que reclama do nosso tênis!” Até eu largo a credencial por um (ns) momento (s) e vibro: "Mete a mão na bola mesmo, Bia!", "Vai, Laurinha!", etc... Já deu pra entender!

O almoço é às 16h. Uma baguete. Nada de especial. Ali mesmo na Suzanne Lenglen, subo a rampa e dou de cara com Federer e Del Potro. Que vista! Ao mesmo tempo, Tsonga e Djokovic na Chatrier. Queria mandar a organização ir pra aquele lugar quando anunciaram os dois jogos praticamente no mesmo horário... e, por coincidência, tiveram desfechos parecidos e simultâneos! De cochiladas e pescadas, vejo que o argentino abriu 2x0 sobre Roger. Uau!

Mesmo assim, o barulho da quadra central que conseguimos ouvir a uns 200 metros de distância e algumas toneladas de concreto como barreira me atrai mais. Pra se ter uma ideia, quando Tsonga teve set point no terceiro set (o telão na quadra de Federer avisava ao público), nem tivemos dúvidas se havia fechado a parcial ou não. A reação da outra quadra foi certeira. Simbora!!

Falei com Djokovic. Mais um feito para a viagem...
Juro que foi uma das únicas sensações de pena em Roland Garros que senti. A dura derrota do francês Tsonga abateu multidões por toda a França. Perder quatro match points é uma coisa que machuca demais para o jogador e, mesmo que o adversário tenha o crédito de ter atuado bem em todos os momentos cruciais (o que aconteceu hoje!), os franceses não mereciam. Afinal, já são (agora) 29 anos sem título para os donos da casa em Paris. “Foi a pior derrota da minha carreira”, resumiu a cena o emocionado Jo.

O final do dia ainda me reservava o prazer de perguntar a Djokovic, número 1 do mundo, quais eram suas expectativas em vir ao Brasil em novembro. Aos desinformados, sim ele virá! Simpático e mesmo cansado da batalha de mais de 4h, Nole respondeu. E por mais óbvia que possa ser a pergunta (e também a resposta), decidi perguntar. De prima...

E mesmo assim, há pessoas que gostam de cuidar da vida dos outros. Andei percebendo algumas indiretas “tanta pergunta pra fazer pro cara depois de um jogo desses e me perguntam se está animado para vir ao Brasil?” Tudo bem, pode ter sido um erro ter feito a primeira pergunta da coletiva, ou sei lá, podem ter imaginado que era uma pergunta idiota.

Mas, de certa forma, sou jornalista, não? Sou pago para fazer perguntas, para investigar, a estar nas coletivas, a levantar minha bunda da cadeira e ir para as quadras porque as coisas não caem do céu para a sala de imprensa. Se é o meu dever perguntar, o dever do jogador é responder nas entrevistas. Talvez não da forma que eu queira, mas algo ele vai me dar. A ética está aí em você fazer o seu papel e não passar por cima dos outros. Pergunta idiota? Idiota é não perguntar!

McDonalds na Laffayete foi a saída desta noite!
Mesmo um “foca” de 22 anos já compreende tais princípios. Talvez alguns desinformados do que acontece por esses lados devessem cuidar do seu e não se preocupar tanto com a rotina alheia. Todos agradecem! Desabafo feito (ou não!), volto para a estação e encontro brasileiros... de Itu! Guiam-me até a Galeria Laffayete onde faço minha refeição final no americaníssimo McDonalds. Ah, não poderia deixar minha viagem sem uma visitinha a ele.

Confesso que nunca fui fã, mas para uma noite chuvosa de terça-feira em Paris, o estômago fala mais alto. E eu? Bem, estou de blusa... e preparado para mais uma batalha!




Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
06/06/2012

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