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Sinais..
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| Galera cearense realmente veio numa hora bom, meu Pai! |
Nem dá tempo de repousar o corpo cansado
e já me toca de acordar com o “toque” do hotel que pedi na noite anterior caso
eu viesse a me exceder na cama! “O dia promete”, reflito ao conferir novamente
minha rota ao local onde estive há menos de 12 horas. Na boa, já estou tão
craque que nem preciso de mapa, porém quem dá sopa para o azar na primeira vez
fora do casulo? Modéstia sempre! Desço para tomar café, mesas lotadas e sem
xícaras para o leite com café que estou chamando desde o sonho passado. Será
que é um presságio do mal por vir? A paranoia é interrompida por
um: “Você é brasileiro?”
Um senhor de aparência de um pouco mais
de 80 anos me indaga e, ao mesmo tempo, me dá a melhor notícia da viagem – não
estou tão sozinho assim! O seu Felipe e sua família (composta pela esposa Teonila, as filhas Rejane, Dionne e Ana e Marcelino, marido de Rejane),
naturais do Ceará, estão fazendo uma viagem pela Europa e, de repente, sento-me
com eles como se já os conhecia há muito tempo... Apresento-me e peço o contato
para poder registrar não apenas a fonte de um mero jornalista, mas a memória de
conhecimento de uma vida inteira. Destino-me ao metrô para o primeiro dia
oficial de Roland Garros. Na primeira linha, fico em pé observando, em meio ao
mapa do vagão, uma menina de uns 6 anos de idade. Junto com a mãe, não tira o
olhar dissimulado em minha direção, fingindo que avista um ponto perdido entre mim e o
teto... Após algumas “fugidas”, ela volta a me encarar e parece não assustar
com a retribuição do favor. A mãe, do lado, a abraça e pede para que se sente
direito. A criança, por sua vez, quer um beijo, mas a mãe se recusa a conceder
o desejo.
É importante perceber duas coisas.. Não tem
jeito, brasileiro se apega demais à questão da família, do carinho, da
passionalidade nas relações (e eu me incluo!). O francês remete mais à independência precoce, ao
equilíbrio e ao sangue frio para evitar “melosidades”, o que me parece claro
naquele momento. Muitos afirmam que meu ponto forte é o fato de ser
extremamente observador e contar muito com o “olho no olho”. Porém, para estes “cantos”,
ficar no metrô é fazer o exercício diário de não olhar diretamente para alguém
por tal margem de tempo, o que, para mim, é sufocante nos 40 minutos de
condução!
| Conhecer a Philippe Chatrier já é um sonho realizado em Paris! |
Ao descer em Porte D’Auteuil, dou de
cara com três sujeitos que carregam equipamentos de televisão (câmeras,
microfones, fios etc). O idioma francês característico me mantém um pouco
afastado, mas a curto prazo. “Please, do you speak English?”, começo. “A little”,
arrisca o jornalista de uma TV local do sul da França. Indago-o se ele e os
demais colegas vão para Roland Garros. Por conta da afirmação, apresento-me (“je
suis bresilien”) e peço orientação sobre o portão para a imprensa. “Follow us”,
continua o repórter.
Na entrada, um susto! O segurança recebe
das minhas mãos a autorização para a credencial, porém exige que vá até a área
dos jornalistas e adquira lá o bedge
(a credencial física). Dessa maneira, voltaria ao portão e o entregaria o
crachá provisório, adquirindo de volta o passaporte que acabou ficando como “garantia”.
Aperto o passo e chego à enorme quadra Philippe Chatrier. Depois de ter
conhecimento do caminho (um “right" aqui, “left" ali, “straight”...), entro por
uma porta de vidro com três pessoas à minha espera. Escolho aquele teoricamente
que fala melhor o inglês, porém a mais simpática figura vem ao meu encontro: “Você
é brasileiro?”
Não é possível! Outro sinal? “Sou”,
resumo. “Ai, graças a Deus, você fala português”, emendo com os olhos brilhando
de alegria! Tenho acesso às salas de
imprensa (mesmo sem ter lugar, porque todas já estão reservadas! O jeito é me
acomodar na zona IBM, algumas bancadas no corredor ao lado...), recebo a
credencial propriamente dita e volto ao ponto de partida em busca do passaporte.
Dali, já é meio caminho dado para as
quadras, que já estão movimentadas com as primeiras partidas do quali.
Dirijo-me para a número 15, onde Júlio Silva vai jogar. Aparentemente, há mais
gente torcendo para o adversário do brasileiro (o espanhol Daniel Munoz-De La
Nava) e, de repente, avisto à ilustre presença do simpático João Zwetsch,
capitão do Brasil na Copa Davis. Ao lado do preparador Edu Faria, o técnico
acompanha mais um ano do Grand Slam francês. Logo depois, Thiago Alves e o
treinador Emerson Lima tentam dar ânimo para Julinho, que não parece estar
feliz com o desempenho em quadra. Minutos depois, sai de quadra com o revés.
Nem quer papo. Eu, tentando me manter longe de problemas, afasto-me e me permito a conhecer o complexo. A Suzanne
Lenglen, a Quadra 1... Arquiteturas magistrais, cada pedra levantada parece ter
sido planejada com todo cuidado.. Dou-me ao luxo de pedir a León, um fotógrafo
holandês muito simpático, para registrar alguns ângulos desta belíssima
visão. Minutos mais tarde, é a vez da Chatrier. Que sonho!
| Suzanne Lenglen também era prioridade para conhecer em Roland Garros |
O dia é pesado. Ainda não me acostumei
com o fuso e, mal olho para o relógio, já são quarto da tarde. Paris continua
cinzenta, porém a chuva cessa. Bom para o tênis. Na partida de Rogerinho,
aproveito para conectar da sala de imprensa do torneio (mesmo não tendo acesso,
burlo a orientação por me ver diante de uma cabine vazia! Que mal pode me
fazer?) Logo a seguir, passo as fotos para o computador e vou à mesma quadra 9
para o jogo de Thiago. O cansaço me atinge e os 10 minutos de puro cochilo
espontâneo são um “prato cheio” para aguentar a gozação. “Tá bem aí, nosso
fotógrafo?”, pergunta o fanfarrão Edu Faria. Joãozinho (como chamamos João
Zwetsch) e Emerson também caem na risada... Que fase, hein!!
Com o fim do tour pelas quadras, o dia
vai chegando ao final em Roland Garros. Não consegui falar direito com nenhum
brazuca após as partidas e, mesmo esperando por alguém sair da área restrita
aos jogadores (imprensa não tem acesso a esse setor), desisto e sigo em direção
ao metrô. Não parece pela claridade, mas já são 20:30h! Os quarenta minutos
seguintes são os piores até aqui na condução do transporte metroviário.
Realmente senti-me uma sardinha enlatada, assim como no avião de
Guarulhos-Munique. Hotel e cama, finalmente. Fim de jornada? Nem tanto. Dá
tempo para uma refeição simples (já que passa da meia-noite e todos os
estabelecimentos fecham depois de tal horário!) e uma companhia ótima com
Marcelino, Dionne, Ana Maria e Rejane.. E eu que sempre achei, por vezes,
difícil compreender o sotaque nordestino em solo brasileiro. Impressões de
lado, comemoro: como é bom ouvir essa voz, Méééééu Dééééus!
Por Matheus Martins Fontes
23/05/2012 - Paris, França

1 comentários:
Sensacional cara...seus textos estão ótimos. Parabéns por mais um dia de Paris! hehe
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