quinta-feira, 24 de maio de 2012

19:10 - 3 comments

Aqui é Brasil!


Os últimos dois dias foram em ritmo intenso, especialmente o primeiro, mas isso nem é minha justificativa pela ausência no blog no dia de ontem. Para mim, ter a humildade de pedir perdão quando falta com o compromisso é o dever de todo e verdadeiro autor. E , assim como o segundo post desse diário de bordo, infelizmente terei que escrever o bastante, mas de uma forma prazerosa para que não se dispersem tão fácil. Bom, na atual situação, pago para ver!

A quarta-feira pode ser resumida em duas palavras e meia: ‘Jeu, mademoisolle ______’. Já compreendo que teve início a chave feminina do torneio qualificatório ao atravessar a Vers La Porte Molitor – o som dos árbitros já me dizem tudo. Roland Garros é o único dos quatro Grand Slams (maiores torneios do circuito mundial) em que os juízes se dirigem ao placar em francês – nos demais Australian Open, Wimbledon e US Open, o idioma, claramente pela colonização, é o inglês. E, além disso, as mulheres “ganham” um tratamento mais formal do que os homens. Assim, “Mademoisolle” aqui, “Mademoisolle” ali  e Roland Garros se torna cada vez mais especial...

Ao ver o que está acontecendo nas principais quadras, lembro-me de ir à sala de imprensa para ver a programação dos treinos do dia. Ao chegar, encontro Lucia, assessora argentina do torneio, algo que me deixa mais feliz. “Você é brasileiro?”, indaga-me com a já conhecida de minhas respostas. “Sou sim. Ainda bem que alguém me entende”, resumo a responder, arrancando gargalhadas da simpática moça que trabalha em seu primeiro ano no torneio.

Vamos à ação! Na Philippe Chatrier quem está? Não! Só acredito vendo... Sim, é verdade! O gênio está trabalhando.. ou simplesmente Roger Federer. Quem acompanha um treinamento deste fenômeno do esporte – essa é a real palavra – “tem vontade de sair”, explica Emerson Lima, treinador de Thiago Alves que também não resistiu à tentação e foi conferir uma sessão do suíço. É impressionante a técnica apurada nos golpes da base, na aproximação à rede, voleios, smashs, defesa, ataque... É só escolher! Após o show, essa é mesma a palavra certa, a criançada vai até ele pedir um autógrafo, uma foto, uma recordação. Ah, que vontade de dar um bico naquela credencial e dizer: ‘Roger, pode tirar uma foto comigo?’ Profissionalismo, às vezes, é um banho d’água fria!

À tarde, encontro vários turistas brasileiros pelo caminho. Ah, como é bom, às vezes, ouvir o bom e tão discutido (inclusive por mim!) português. Nem se for o original como acontece em um restaurante perto de onde estou hospedado. É de Niterói, do Espírito Santo, Florianópolis, São Paulo, uma verdadeira cultura de miscigenação em plena França! No último jogo do dia, Rogerinho vence um francês que mais parecia estar dopado do que outra coisa – chegava em todas as bolas! – e me dá o direito de voltar para casa... às quase 22h! Da Porte D’Auteuil até a estação Louis Michel, onde sigo para meu covio, são cerca de meia hora. Chego, tomo um banho e saio, mas cadê Paris acordada quando mais preciso?

O dia amanhece muito rápido em Paris (é o desespero do acordar cedo!) e já pulo para o café da manhã reforçado do hotel. Ali, aguarda-me Dionne, aquela filha do Seu Felipe, que seguiu viagem pela Europa. A procuradora da fazenda, que mora em Brasília, é a calma em pessoa! Na base do “sou feliz e procuro viver à vida da melhor forma”, convida-me para passar a manhã do dia em um ônibus a fim de conhecer os principais pontos turísticos da cidade. Hesito e depois o trabalho que me perdoe, mas Paris não está aqui todo dia à nossa frente.

Descendo na estação Ópera, eu e Dionne seguimos passeio pela região do Moulin Rouge, da Galeria Laffayete, Praça de Madeleine. Porém, trocar de veículo é importante para mesclar com outra das quatro zonas principais do tour. O tempo é curto e, dessa forma, escolhemos a rota da Torre Eiffel. Assembleia Nacional, a bela estação de trem Garu du Nord, o Rio Sena, Arco do Triunfo e a belíssima Champs-Elysees eram realidades completamente distintas para um interiorano como eu há uma semana.

Uma da tarde e chegamos à vista exuberante da Eiffel. De todas as posições, fotos são bem-vindas com direito até deitado para encaixar a bendita Dionne à altura total da torre. Nem almocei (minha refeição seria dois sorvetes de baunilha no complexo) e já olho para o relógio. São 13:30h e o sentimento de culpa fala mais alto... finalmente! Em direção a Trocadèro... Roland Garros me aguarda!

Assim que boto o pé na quadra 11 para ver o jogo de Thiago Alves, o preparador Edu Faria me aborda: “Olha o soneca!” Pois é, tô pagando os meus pecados por fraquejar em um momento do cansaço acumulado de dias sem dormir, dores nas costas... Mas gosto de ficar perto de caras como eles.. Junto com João Zwetsch, Edu já passou muito tempo no circuito e conhece os macetes também para quebrar o gelo quando necessário!

Infelizmente, o brasileiro vem a perder, mas aproveito a oportunidade para dar um pulinho na Chatrier. Ontem teve Federer né, quem sabe não... Sim! Rafael Nadal está lá na companhia do fiel escudeiro, o tio Toni. Aproveito a estadia próximo da quadra para anotar algumas imagens do hexacampeão do torneio e que poderá fazer sucesso em 2012 se levar o sétimo caneco. Em minha companhia, uma jornalista russa. Arrisco um inglês e já tenho a simpatia da repórter de uma revista especializada e o contato para qualquer resposta de um jogador deles. Afinal, Copa Davis está aí, não pode-se esquecer que brasileiros estão no caminho da Perestroika novamente, mas me impressiona a própria Natalie: “Não sabia que pegaríamos o Brasil!” Parece que o “soneca” não é o único que anda dormindo...

No caminho de volta, a fome se junta com fraqueza e, talvez, preconceito contra os franceses. Desde o começo da viagem, já percebo que tanto homem quanto mulher, seja do engravatado até o mendigo, tem o mesmo cheiro! A lenda do perfume tem procedência, isso não é o que mais me incomoda, afinal São Paulo também tem metrôs superlotados, no entanto me assusta o certo desprezo com o odor que parece estar impregnado em mim... Chega a arrepiar! E quando o veículo vem lotado como foi ontem, que só fui chegar em casa no anoitecer da “late” Paris (a cidade começa a escurecer a partir das 21h), a sensação é pior. Não sei se vem dos trilhos do metrô, das ruas ou se posso estar “viajando na maionese”, mas não trocaria meu Brasil por nada no mundo! Não é crítica de forma alguma, é apenas uma impressão de quem está há cinco dias e observa muito bem as situações... 

Falar que vim a Paris e passei fome pode soar um absurdo para quem lê meus relatórios, mas comer bem ainda não me aconteceu na viagem! Capital da moda, principais metrópoles do mundo, organização perfeita da linha metroviária (isso não posso negar!), tudo isso cabe aos franceses. E a educação que achei que seria mais difícil por aqui ainda não repercutiu informações indesejáveis. O problema é quando você acaba expulso do restaurante à meia noite tentando fazer uma refeição decente! Me diga, quem no Brasil faz assim? Em jogo de futebol, daria morte no boteco. Aqui, já é outro dia. Como o tempo passa rápido! Bom, enquanto isso, vou vivendo...


Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França) - 25/05/2012

3 comentários:

Boa Matheus! Já tá um europeu, hein cara! Pegando metrô e tudo.
Deve ter sido emocionante ter chegado próximo ao Federer e Nadal. "Ah, que vontade de dar um bico naquela credencial e dizer: ‘Roger, pode tirar uma foto comigo?’ Profissionalismo, às vezes, é um banho d’água fria!" haueahueaheuaeuaehuaehaueauehaeuaeuaeauehauehaeue. Por aqui, como você já deve estar bem sabendo graças à grande rede, o nosso Verdão depois de uma década voltou à semi da Copa do Brasil. Ufa, quanto tempo... Já aquele timinho da zona leste de SP vai encarar o Santos, de Neymar, na semi da Liberta. Nunca torcerei tanto pelo jovem prodígio como agora!
Abraço,
Boa sorte na sua jornada.
p.s.: Uma pena o T. Alves ter sido eliminado. =(

Este comentário foi removido pelo autor.

Menino, parabéns! Seus textos são um deleite para minhas tardes corridas aqui na ECT. Tenho acompanhado seu blog desde sua partida para o velho continente e me delicio a cada dia, vendo como num filme, as cenas de sua saga na cidade luz. Imaginava que ver de perto o Federer e o Nadal era algo indescritível, mas suas exclamações foram a tradução perfeita da sensação que eu teria se estivesse no seu lugar...rsrs
Aproveite bem sua estada em Paris, viu! E não deixe de ir à Sacre Coeur, tá? É um lugar mágico, você vai entender.
Beijo grande pra você e muito boa sorte nessa sua aventura!
Kátia Carrero

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