quinta-feira, 31 de maio de 2012

15:15 - No comments

Français? Aqui é português!

Prometo um dia, entro em contradição no outro... vai entender! O ideal dessa viagem era “um dia off”, como diz a simpática Lucia Hoffman no momento em que me acompanha no jantar após outro dia agitado em Porte D’Auteuil!


Às 20h, decidimos zarpar do mundo do tênis- que teve Azarenka, Federer, a doce Ivanovic e a nem tão inesperada derrota de Venus Williams – para apreciarmos um pouco da culinária francesa ainda aberta. Para não correr riscos, vamos até Abbesses, onde passamos próximos da Place de Clichy. Opa, eu já estive aqui! É incrível, em menos de duas semanas, já conheço por onde piso em uma metrópole do tamanho de Paris. Nada mal...


De tantas opções do lugar que já não recordo mais o nome [apenas lembro do garçon argentino que nos atende], escolho o mais simples e prático aos meus olhos – sobrecoxa de frango assado! De sobremesa, “crepe de Nutellá”, como indica à moda da casa! Valeu a companhia, Lucia! Desde o jogo de André Sá na quadra 16 lá pelas sete da noite, não? Ou seria da tarde ainda aqui na França?

Começo e fim do dia nas mãos dos lusos em Paris!

A volta pelo metrô, debaixo da chuva parisiense, é tranquila e a noite passa assim como é no dia... voando! Parece que nem dá tempo de descansar! Ao acordar, mato a saudade de uma amiga que “madrugou” da outra parte do Atlântico! Começou bem meu dia.


Sem tempo para o metrô, me contento em um táxi nas redondezas. “Do you speak English?”, começo. “No english”, responde-me o sujeito que indica “Français ou português”. “Português, português!”, não perco tempo. Oliveira Manuel, ou simplesmente Olivier Manuel mora na França há mais de 30 anos e veio com a família fugindo da ditadura salazarista. Um papo aqui, um papo ali e descubro que o homem é casado e tem três filhas com também uma refugiada do Estado Novo Português. Que história!


Boto o pé no complexo e quem vejo? Rui Machado! Pra aqueles que não conhecem, o nome faz jus a uma figuraça do mundo do tênis português. Lembro-me quando o rapaz jogou um torneio em Rio Preto no ano passado. A cada erro: “Quadra do caralho!” “jogo de merda” e afins foram o arsenal oral de Rui. Dei risada na hora que o avistei no sofá de entrevistas atrás de onde me sento!


Para completar a graça, chego-me à mesa e lá está Lucia, a assessora argentina do torneio. Que simpatia, preciso dizer novamente! Parece me aguardar ao soltar um “Bom dia!”. “Buenos dias”, contrario. Daí, ela me vem com essa: “Uma amiga minha de São Paulo mandou te dizer que você é um fanfarrão!” Não acreditei! Na hora, juro que não me segurei de riso... e nem ela! A argentina me sacaneando... em minha própria língua! Deixa ela! A verdade é que estar em um lugar estranho, a saída é procurar quem mais você entende! Neste caso, os hermanos (sim, à frente dos brasileiros e portugueses) estão em primeiro lugar!


Na companhia ali na sala da IBM, converso com meus colegas húngaros que sentam todos os dias no mesmo lugar. Até me ensinaram o “obrigado” deles – “köszönöm”. Outros me confortam com o poder de algumas palavras – os jornalistas argentinos, um ou dois franceses e os turistas que encontro passeando desordenadamente em Roland Garros. Já foram torcedores do Atlético-MG, do Figueirense, do Corinthians... impressionante como há brasileiros por aqui! Na partida de Marcelo Melo hoje de tarde, vi muitos, inclusive, Bellucci. Sim, ele ainda está aqui!

Finalmente conheci a área de imprensa da Suzanne Lenglen e confesso que fiquei abismado... passo debaixo da quadra e, de repente, você está em uma espécie de camarote bem atrás dos jogadores! Já saí do negócio e dou de cara com Tsonga.. que privilégio!
Poderia passar um post inteiro falando do maior espetáculo (quando falo “maior” refiro-me à duração!) que tive o prazer até aqui de vivenciar em um estádio de tênis – John Isner, já conhecido por sua maratona em Wimbledon há dois anos, contra Paul-Henri Mathieu.


Já era no anoitecer de Paris e estava ainda eu em Roland Garros né, Mathieu?
Philippe Chatrier quase lotada. Torcida francesa incendiada, bandeiras na quadra, mais de 5 horas e meia de jogo. Meu Deus! Cada ponto do francês era uma adrenalina nota 1000! Confesso que sempre simpatizei com Mathieu – e não é porque ele é meu xará em francês. Bom, pode ser! – e como é bom vê-lo voltar à Chatrier em grande estilo! 18x16 na parcial decisiva – 5h44min. Segundo jogo mais longo da história de Roland Garros. Ficar até às 22h para acompanhar sua coletiva foi o certo a se fazer. Não haverá outras como essa tão cedo para mim.


Ao sair do complexo, não resisto e pego um táxi. “Vai para onde?”, pergunta-me Nelson, OUTRO luso. Não acredito. Sigo até o hotel, onde rumo a um restaurante aberto pela redondeza. Onde? Comida portuguesa! Parece sacanagem, mas não é. O dia é deles! Ou melhor, o dia é meu em um bom português europeu!



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
01/06/2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

06:13 - No comments

Tão bom pra acabar em.. NUTELLA!!


Mais uma vez parece que vou adiar o post do dia... mas não vou! Que venha com atraso, mas que venha. Acordo-me mais sozinho, já que a querida Dionne não está mais para a companhia em um café da manhã ou um jantar sei-lá-que-horas, mas fazer o que? Como Serena vai falar mais tarde: “É a vida!”

Volto ao caminho do metrô e já avisto um casal que mais parece alemão [nesses 10 dias, já deu para perceber um pouco a diferença entre os povos europeus!] se desentendendo no mais novo capítulo alá novela mexicana. Um “deixa disso” por parte dele, “um chega para lá” da mademoiselle.. Até o músico que entra no vagão para alegrar (ou não!) o ânimo não tira os olhos da cena. Pena que a Michel-Ange Molitor me vem antes do desfecho...

Favorita, Sharapova estreou com "bicicleta" em Paris
Logo na saída da estação, entro em uma banca e compro duas caixas de Pringles e uma Coca-Cola. Sim, decidi! Esse será o almoço do dia e olha que me custou 7 euros!!! “Um almoço em Roland Garros me daria menos prejuízo”, penso. Mas deixa, agora já foi! Boto o pé no complexo e Sharapova já fecha o jogo pedalando.. (para quem está perdido, a russa fez uma bicicleta em seu primeiro jogo – quando a tenista vence sua partida por 6/0 e 6/0)

Meia hora depois, “Press announcement – Maria Sharapova is on her way to the interview desk!” É a minha chance! Primeiro, foi Federer. Agora, a favorita da chave para mim! Poucos jornalistas na sala e lá vou eu, com o braço tremendo e não foi por causa da beleza da mulher! “Maria, hi”, no mesmo modo com que comecei o diálogo com Roger no sábado.

Feita a pergunta, a mulher me responde, com o sorriso estampado e um inglês perfeito que (creio eu) a faz ser odiada em seu próprio país [parece falar melhor do que o russo. Se bem que não entendo batata do idioma deles né!]. Depois, decido ir para a modesta quadra 5, onde Dmitry Tursunov joga ali. Antes, ainda quando estava na Chatrier me programando quanto aos “requests” (papel que o jornalista entrega na bancada de entrevistas pedindo qual tenista deseja entrevistar e qual assunto), decido focar nos russos! Afinal, Davis vem aí na minha casa e não haverá oportunidade melhor de abordá-los.. enquanto não perdem!

O homem mais parece uma termômetro... “Iceman” como Raikonnen é na Fórmula 1, o homem não mostra emoção quando vence um ponto, tampouco quando erra.. Aliás, quando comete algum equívoco, quem está na quadra fica até com medo do que pode fazer. Parece uma bomba-relógio, esperando a melhor hora para explodir. Mas, felizmente (para mim!), passa facilmente pela primeira rodada. E numa quadra que mais parecia Tóquio em hora do rush (jogo era contra o japonês Go Soeda).

O "mala" Tursunov se mostrou muito simpático em exclusiva!
Na sala 3, entro com meia dúzia de jornalistas russos e dou palavra a eles primeiro. Imaginem um cara que não entendeu uma mísera palavra do que foi dito em mais de 10 minutos. Minto – Roland Garros é universal! ^^ mas só isso, juro... “Now, in english”, apresenta-me a assessora. “Hi, Dmitry”, começo. “Ow, Brazil, Brazil!”, surpreende-me o sujeito. Um verdadeiro “mala” na quadra, mas outro dos gênios depois. Sei lá se foi porque venceu, mas é essa a impressão que tenho do russo que também é bastante famoso no Twitter. Em quase 10 minutos, o cara me responde atenciosamente e ainda digo que sou da cidade em que ele vai estar em setembro. “I can tell you. It’s pretty hot and tough there”, aviso. Dmitry dá risada e diz que já esteve no Brasil. Em Campos do Jordão, relembra das grandes festas dos jogadores e o fato de jogar contra Thiago Alves em um ano e mostrar o dedo do meio para a galera são algumas das histórias que o simpático russo me apresenta. Válido!

Depois, vem Youzhny! O algoz do Brasil em 2011 está à minha frente, respondendo aos mesmos russos que indagavam Tursunov uma hora antes. Enquanto isso, o teto da sala 4 treme. É a torcida na Philippe Chatrier torcendo para a local Razzano contra Serena. Senti-me quando fiz um tour pelos vestiários e dependências do Maracanã alguns anos antes. Parece surreal imaginar que poucos centímetros acima acontece um turbilhão de emoções em um dos maiores estádios do mundo. A recíproca é verdadeira tanto para a Chatrier quanto para o Mário Filho! 

Na minha vez, Mikhail não é a mesma simpatia do que Tursunov, porém é bem solícito. Longe de ser o contrário. Se ele está disponível para Rio Preto neste ano? Aos curiosos, é cedo para dizer. Não sou eu que estou escondendo o jogo. É o próprio que me declara. Logo depois, ouço “Caroline Wozniacki is on her...” Não penso duas vezes. É na sala do lado!

Que simpatia! O rostinho bonito é apenas uma das coisas boas de Carol. Paciente, responde aos dinamarqueses primeiro e depois vem a hora do Brasil. Duas perguntas. Respostas que pouco acrescentam, mas a vontade de falar já é muita vantagem para outras. Sinto-me como se a tivesse entrevistado por diversas vezes. E ainda me conta: “Adoro o Brasil!” Cético como sempre, dou-me o luxo de acreditar que não é apenas balela.

Sem opções gastronômicas nas altas horas? Apelar para Nutella é bom negócio!
Já são 21h. Bora para o metrô! Na correria das escadarias da Havre Cumartrain, entro suando pelo vagão. A porta se fecha. Uma mulher me aponta o dedo para fora. Meus óculos ficaram pelo caminho. Mas, a porta se fechou. E vejo-o indo embora enquanto sigo pelos trilhos. Num ato de desespero, desço na próxima estação. O quê? Cinco minutos para o trem de volta? “Não vai dar tempo”, penso. E, de fato, não deu. Retorno e nem sinal dele. Para muitos, “é apenas um óculos”. Mas, é aquela coisa de valor sentimental. Se antes não acreditava, agora vejo que não é bobagem. Chego no hotel e vejo que esqueci a bateria no complexo. Que beleza! Jantar a base de pão com Nutella (não estou reclamando!) porque todos os lugares fecham em horários desordenados em Levallois. Não é possível. Mas sobrevivo vai! Como completo a transmissão? Já estou em Roland Garros! É mais um dia começando, ou melhor, já começou há muito tempo!



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
30/05/2012

segunda-feira, 28 de maio de 2012

17:22 - No comments

Dividido...

Peço a vocês, queridos leitores, perdão mais uma vez pelo atraso, mas essa ocasião realmente merecia uma reflexão mais profunda. Sinto neste final de segunda-feira que muito da minha alegria que passei na última semana vai se acabar assim que acordar de manhã. O título do post de hoje resume bem como foram minhas últimas 48 horas. "Dividido" em muitos aspectos...

Depois da onda de cabarés no sábado, lembro-me de correr e correr e correr e correr MUITO no domingo. Assim que saí na Michel-Ange Molitor, parto em uma disparada que mais parece Senna em corridas na chuva. É ultrapassagem em bando! Tudo para acompanhar de perto a abertura oficial de Roland Garros. No primeiro dia, fico atento a ver um pouco a partida de Tsonga, principal esperança da França em quebrar o jejum de 29 anos sem títulos de Grand Slam (último foi Yannick Noah!), mas confesso que meus olhos vão para a modesta quadra 6. Ali Feijão fará sua estreia em Roland Garros e no dia de seu aniversário.

Roddick decepcionou mais uma vez no saibro de Roland Garros e deu show à parte em entrevista
O desfecho vocês já acompanharam, mas quem não viu fique à disposição - http://revistatenis.uol.com.br/Edicoes/0/Artigo260033-1.asp. Um pouco depois, dirijo-me à charmosa Suzanne Lenglen, onde estive apenas nos primeiros dois dias acompanhando treinos dos 'bam-bam-bam"! Lá vejo o desfecho do decadente (desculpem a franqueza, mas no saibro é deplorável vê-lo!) Andy Roddick, que já liderou o ranking, hoje dominado por Djokovic, no torneio! É incrível o comportamento da torcida francesa - alguns aplaudem o norte-americano, que sai desolado de cena; mas a grande maioria apoia incessantemente o local Nicolas Mahut! "Normal, ele é da casa", podem me falar. Mas é um comportamento diferente - brasileiro é acostumado com a ideia futebolística de que é bom sempre e quando ganha, ótimo! Mas quando perde, nem se lembra. A pegada é outra por aqui. 

Só ver pelo hino da seleção de futebol - jogadores abraçados, alguns deixam cair lágrimas, "armas" para cá, 'luta" para lá, "liberdade"! Tanto na Chatrier quanto na distante 18, do outro lado da Lenglen, o mais jovem francês é prendado desde o começo a como se comportar fora da quadra. "Alleeeeeeeeezz" é o que mais se ouve - na vitória ou na derrota, seja nas arquibancadas quanto no telão das escadarias do complexo! Enfim, foi uma visão, quis dividi-la com vocês. Confesso que fiquei fascinado por um lado, mas pelo outro decepcionado com a forma de se envolver de nossa cultura. Vai saber...

Não contente, segui Roddick até a sala de entrevistas. Já havia recebido a informação de que ele não era o mais simpático dos protagonistas. Principalmente quando perde... Já imaginam o medo que entrei ali! Ao ter o primeiro contato, já percebo o quão difícil será para os mais "corajosos". Cabeça baixa, parecendo se esconder no boné, uma pergunta ali e Andy já devolve: "Pessoal, vocês estão se preocupando muito comigo. Teve um cara que jogou melhor hoje do que eu e não vou responder mais questões sobre isso". 
Para quem duvida da genialidade do sujeito à frente dos gravadores, olhem só essa! http://www.youtube.com/watch?v=RDFW-unhTVg

De volta à Levallois, parto com dona Dionne e Paulinho para a Champs-Elysees, afinal última noite dos cearenses em Paris não pode passar em branco. Muito pelo contrário. O glamour da Cidade-Luz sob os holofotes dos restaurantes, lojas e tudo o que possam imaginar me encanta. Que visão espetacular! Um bom vinho e um belo táxi de volta me acusa que logo tudo isso acabará! Já estou dividido.. 

O domingo mal chega e já me bate na porta. Ou melhor, no meu telefone! É Dionne me avisando que vamos para o Louvre. Confesso que não sou o maior apreciador artístico do mundo, mas é um local que merece um carinho especial. E, afinal, estou em passeio também. Os jogos de Bellucci e Rogério começam à tarde, então simbora!!

Ao descer na estação Musée du Louvre (o nome já diz tudo!), saímos na porta do negócio... E que negócio enorme! A Pirâmide já nos fascina ainda antes de entrar. Inside, parece que estamos no Oriente! Uns 10% da China invadiram o local, tomando desde a Mona Lisa até a Vênus de Milo! Mesmo assim, nos corredores ao lado de Da Vinci, Michelangelo, Goya, Giotto, El Greco e dentre tantos outros, regresso na história e acompanho uma trajetória desde a antiguidade clássica... Estou dividido! Devo me dirigir agora para a Havre Cumartain em direção a Roland Garros. Dionne, por sua vez, deve voltar ao hotel para arrumar as malas. Hoje, ela volta para o Brasil! Despedida? Ainda não. Há o táxi.

"Could you speak english, please?", começo. 'Yes", informa-me o simpático motorista. "Rue Danton", emendo. O caminho parece diferente passados uns cinco minutos dentro do veículo. Com o taxímetro marcando 22 euros, ele para. "Rue Danton!" E me indica. Pois é, mas é Rua Danton, em Levallois-Perret. Daí, ele me explica que se não falar "Levallois", qualquer um pensa que é a Rue Danton de Paris. Descubro, após uma semana, que não estou dormindo na capital. Levallois faz parte do subúrbio parisiense, uma cidadezinha ao redor. "Igual Taguatinga com Brasília", lembra-me Dionne.

Dionne: grande companheira nesta viagem especial em Paris!
É chegado o momento. Da separação. Há sete dias, nem te conhecia e em tão pouco tempo você se tornou a pessoa mais importante para mim neste lugar. Como uma segunda mãe, diria. Neste espaço, tenho consciência de que vão me entender quando afirmo: "Obrigado por sua companhia nesta semana. Você realmente fez a diferença em momentos alegres e tristes, me mostrou como curtir bem a vida. Foi um prazer! Espero que nos vejamos no futuro próximo! Que Deus te ilumine sempre! Um grande beijo"

Continuando... Rogerinho e Bellucci perderam na tarde desta segunda-feira. Um na quadra 2, o outro na 3. Com tantas pessoas transitando (o adversário de Rogério era o americano John Isner, então já imaginam o excesso de branquelos já roxos de tanto sol sem proteção). Fiquei realmente dividido.. por quem torcer, por quem acompanhar, e também do que fazer com um pai chato e com seu filho mimado encostados no muro do meu lado. No jogo de Rogerinho, Isner, gigante de 2,06m, não fez força para vencer por 3 a 0. Também, era cada pedrada no saque... Não deu graça! Mas nem assim é motivo para zombar dos outros... Muito feio, Tio Sam!

Assim, Roland Garros mal começou e já não tem brasileiros... nas simples! Nas duplas, teremos mais três - Bruno Soares, Marcelo Melo e André Sá. Na sala de imprensa, encontrei mais um que me faz companhia nas entrevistas - Elcio, da Radio França. E mais uma portuguesa na área de informações. Do mais... Já se passou uma semana voando. Admito que estou contando os dias para muita coisa. Câmbio, desligo. Por enquanto...



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
28/05/2012

domingo, 27 de maio de 2012

00:42 - No comments

Arrepiante...


Antes de sair, faço questão de tomar um banho que vai ajudar a consumir a energia de um dia inteiro neste forno parisiense, bem diferente de quando cheguei por estes lados. No metrô para o complexo, já estou tão afiado que me dou o luxo de um cochilo por preciosos minutos antes de chegar à Havre Caumartin. Num piscar de olhos, já estou na linha 9 em direção à Pont de Sèvres.

o vagão, já me fascina observar os diversos traços sociais já citados anteriormente, mas faço questão de recordar de alguns em especial – primeiro, aqueles “tiozinhos” que entram, de repente, e anunciam sua apresentação musical sem se preocupar com o gosto e a vontade de cada sujeito naquele ambiente. Virou um cover em tempo real! O fone de ouvido é outra marca presente no subsolo francês. Não sei se no Brasil, principalmente em São Paulo, há tantas pessoas que utilizam-se de tal acessório, mas como essa “francesada” gosta de música... nada contra, até me distraio quando um me senta do lado!

Visão da tribuna de imprensa da quadra Philippe Chatrier. Nem arrepiou de certo!!

A pé da Michel-Ange Molitor (sim, eu descobri um outro caminho para o complexo!), deparo-me com uma fila enorme de crianças ao redor de Roland Garros. O sábado reserva o Kid’s Day, que terá uma série de exibições com grandes nomes do torneio, além da apresentação do ídolo local Bob Sinclair, outro apaixonado por tênis.

Ao chegar à sala de imprensa, olho para Lucia (a argentina) e emendo: “Ça va?” Ela continua: “Bem e você?” Não resisto e caio na gargalhada. “Estou aprendendo”, deixo claro à assessora. Confesso que, nesses dias, esqueci de perguntar onde que ficarei para acompanhar os jogos na quadra Philippe Chatrier. Com naturalidade e paciência, a hermana me avisa: “Lá de cima!”

A tribuna de imprensa (pelo menos é assim que a chamo!) fica um andar acima da Zona IBM, local onde estarei para conectar com o mundo durante o evento. Ao passar pela porta de entrada, espanto-me com a vista – uma Chatrier de outro ângulo, com a oportunidade de ver quase todos os detalhes do que acontece lá embaixo. Não resisto e peço a uma colega japonesa a registrar o momento. Pena que a sombra do local quase que não ajuda em nada na foto, mas tudo bem, a sensação já se explica por si só!

Logo em seguida, vejo uma partida bem fraca entre Zvonareva e Lisicki, que mais parece uma “domingueira” no clube à tardezinha... “Bepa” (como é conhecida a primeira) não está nada bem e a exibição poderia ser, infelizmente, trocada por “show de horrores”... Depois, veio duelos entre franceses, Djokovic, mas a melhor parte foi quando desci as inúmeras escadas da quadra e dou de cara com... Sinclair! Sim, ele já se dirige à quadra com os pirralhos no encalço. Não tenho dúvidas. Volto à tribuna!

Serena "causou" ao lado de Bob Sinclair. Serena querendo se aparecer? Ah, vá!
Que show! Federer, Santoro, Escudé e Grosjean começam com um descontraído bate bola, um prato cheio para jogadas de efeito por parte dos protagonistas – Federer, então, nem se fala! Tudo ao som do DJ francês... Del Potro na cadeira, Wozniacki, Lisicki, Na Li se juntam à festa, acompanhadas de perto por Djokovic, Wilander, Murray... todos têm lugar reservado e o público vai ao delírio. A popstar Serena Williams, que nem gosta de se aparecer, já entra em quadra e vai direto para o lado de Sinclair. Aguenta ela agora!!

Só me arrepia acompanhar tudo isso de camarote (literalmente falando!) e relembrar que há pouco tempo achei que isso poderia ser apenas uma ilusão. Não é. Já toma conta de mim, um fascínio que vou guardar para uma vida de experiências! À tarde, após o almoço e o contato com a família, vejo pelos monitores na sala de imprensa que um “Daniel San” está treinando em alguma das quadras secundárias. Sim, é Thomaz Bellucci, nosso número 1!

Acompanho de perto mais um de seus treinos – já vi de perto tantos lá no Brasil – e realmente vejo o quanto este jovem se dedica nos treinamentos. Pode ser “amarelão” para muitos (tenho uma opinião diferente, mas confesso que tem horas que dá vontade de estrangulá-lo por alguns resultados...heheh), porém o esforço em cada bola, em cada ponto é confortante! Após uma hora rachando no sol forte de Paris, consigo contatá-lo para uma palavrinha. Ao meu lado, inúmeros fãs nos gritos “Belluttííííí”, querendo autógrafos, um instante de fama com o ídolo. Uma mulher até surpreende: “Thomaz, colocarei seu nome no meu filho!” Que beleza, não?

Bellucci mostra grande empenho e dedicação nos treinos
Missão cumprida, de volta aos aposentos da estação Michel-Ange Molitor. Casa me aguarda, ou melhor, hotel. Já estou me sentido à vontade demais, talvez? Em parte. Para finalizar o dia com uma boa refeição, acompanham-me Dionne (sempre ela!) e o sobrinho Paulinho, um estudante de Teleinformática e que dedica um tempo de sua rotina para a companhia de sua simpática tia. Já passam da meia noite e nosso bairro.. tudo fechado! Qual a saída? Metrô!! Não acredito e com direito a som ambiente no embalo de "Dança do Kuduro" e "Ai se eu te pego"...

É impressionante como têm bastante gente ainda pelos lados debaixo da terra. “Tudo indo pra balada!”, indico aos dois, que acenam positivamente com a cabeça. Descemos na Pigalle e saímos em um verdadeiro antro de cabarés. Que fase, não? Sexy shop aqui, ali, strip club, tudo que você possa imaginar.. No final, paramos em um restaurante na Place de Clichy. Um escalope à moda de Normandia é o escolhido. Um Bordeaux (creio eu!) para acompanhar e duas cocas para o “juvena” que ainda está com tosse. Mas não resisto e aprecio o vinho à moda da casa! Que final de noite! Seria perfeito se não fôssemos quase que expulsos do estabelecimento.. Já eram duas da matina. Taxi de volta e histórias pra contar. Amanhã é outro dia, “começa” (depende do referencial) Roland Garros. E eu? Ainda estou aqui!



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
27/05/2012 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

15:10 - 1 comment

Assim você me mata..


Após chuva no início da semana, Paris parece guardar o melhor pra o início de Roland Garros

O começo se justifica pelo fim. Essa poderia ser a definição correta do dia de hoje, que foi marcante de inúmeras formas. Após pouco mais de quatro horas de “soneca”, levanto-me com o mínimo de vontade para mais um dia de correria. Primeiro, tomo café com Dionne (essa vai ganhar uma menção honrosa pela fantástica e primordial companhia nas horas mais complicadas) e já pego o caminho do metrô. A rotina é sempre a mesma – Louis Michel até a Havre Caumartin, daí baldeação e sigo até a Michel-Auge Anteuil e, finalmente, Porte D’Auteuil...

Paris nunca esteve tão bela aos meus olhos! Que sol, que paisagem mais linda numa sexta-feira de final da primavera. Tem que tomar cuidado, porque querendo ou não, deve-se passar protetor solar para se proteger... No dia anterior, paguei o pato, esqueci-me de falar... Piso no complexo e Rogerinho acaba de fechar o confronto de última rodada do qualifying. Chave principal de Roland Garros pela primeira vez, vou ao seu encontro e admiro suas primeiras palavras fora da quadra.

Tive o prazer de falar com Roger Federer nesta sexta
Porém, não tenho tempo e já corro para o Museu da Federação Francesa de Tênis. Vai começar o sorteio da chave principal. Que lugar, histórias marcantes, campeões – inclusive Guga – imortalizados naquela antiguidade mais que moderna – são relíquias, raquetes, uniformes, troféus... Sento-me para transmitir ao vivo via Twitter os confrontos de primeira rodada e, quando olho, simplesmente Rafael Nadal a poucos passos de mim... Uma apresentação toda especial, com depoimentos de lendas do esporte, passa despercebida por todos, inclusive por Nadal, mas não por mim. Afinal, em quantos momentos não pensei em estar aqui?

Chaves sorteadas, bora pra sala de imprensa que já está tomada pelos principais veículos do mundo. Consequentemente, fico sem mesa e vou parar na Zona IBM, uma espécie de bancada para aqueles que não reservaram mesa dentro das salas principais. Não reclamo, só indago: “Cadê a tomada para colocar a bateria do PC?” Nem dá tempo, pois já começou a sessão de entrevistas coletivas. O “Media Day”, como chamam, é o dia em que os principais jogadores respondem as primeiras indagações da trupe de jornalistas. Sinto-me o “foca” daquele lugar, não é para menos ao ver um monte de inglês de cabeça branca, franceses na primeira fileira e eu, lá do fundo, ouvindo atentamente...

Primeiro vem Na Li, chinesa que é a atual campeã entre as mulheres de Roland Garros, depois vem Maria Sharapova, musa do circuito e muito simpática em frente aos repórteres. Em seguida, Serena Williams, o carismático Novak Djokovic e, de repente, Roger Federer. Tomo coragem um pouco antes do gênio entrar e bolo uma pergunta. Mais básica possível, mas que gere assunto. Com a sala relativamente cheia, ergo o braço que mais parecia uma britadeira de tanto que tremia e faço a primeira pergunta da coletiva. “Roger, hi”, começo. E o final mais parece apresentação de trabalho na época da faculdade, você não sabe a hora que termina. 

Nadal busca hepta e história no saibro parisiense
Estou diante do dono de 16 Grand Slams e o maior da história do tênis e ele, simpaticamente, olha para mim (talvez o único momento em que sou protagonista em Paris, de fato!) e responde com toda a sua calma e atenção. Não só a minha, mas as centenas a seguir. Quem diria, hein? Quase morri na hora, mas me controlei e saí suando da sala. Liguei para os meus pais do orelhão (consegui pela primeira vez!) e dei a novidade. Parecia um sonho... mas não era!

Logo depois, vem Nadal e, sem mostrar toda a simpatia e desenvoltura do poliglota da Basileia, responde as perguntas de forma contrariada. Não, não é essa a palavra. Na verdade, o espanhol parece não ter jeito de falar em público, mas quando a assessora abre espaço para as perguntas em espanhol, aí o homem decide falar.. e muito!

Dia feito, sol ainda raiando. Vamos voltar? Passo na farmácia para pegar uma pastilha para cuidar da tosse que ainda me incomoda... E, de repente, já são 22h. O tempo voa por esses cantos. Mas hoje estou preparado e me sirvo de um escalope a bolonhesa no simples La Romana. De sobremesa, o conhecido petit gateau.. Ao pagar a conta, vejo o garçom argelino dançando com os braços levantados. O que ouço? “Ai se eu te pego”!!! Tava demorando pra tocar isso... É, o dia foi para matar né? Pois bem, o importante é que continuo vivo...



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
25/05/2012

quinta-feira, 24 de maio de 2012

19:10 - 3 comments

Aqui é Brasil!


Os últimos dois dias foram em ritmo intenso, especialmente o primeiro, mas isso nem é minha justificativa pela ausência no blog no dia de ontem. Para mim, ter a humildade de pedir perdão quando falta com o compromisso é o dever de todo e verdadeiro autor. E , assim como o segundo post desse diário de bordo, infelizmente terei que escrever o bastante, mas de uma forma prazerosa para que não se dispersem tão fácil. Bom, na atual situação, pago para ver!

A quarta-feira pode ser resumida em duas palavras e meia: ‘Jeu, mademoisolle ______’. Já compreendo que teve início a chave feminina do torneio qualificatório ao atravessar a Vers La Porte Molitor – o som dos árbitros já me dizem tudo. Roland Garros é o único dos quatro Grand Slams (maiores torneios do circuito mundial) em que os juízes se dirigem ao placar em francês – nos demais Australian Open, Wimbledon e US Open, o idioma, claramente pela colonização, é o inglês. E, além disso, as mulheres “ganham” um tratamento mais formal do que os homens. Assim, “Mademoisolle” aqui, “Mademoisolle” ali  e Roland Garros se torna cada vez mais especial...

Ao ver o que está acontecendo nas principais quadras, lembro-me de ir à sala de imprensa para ver a programação dos treinos do dia. Ao chegar, encontro Lucia, assessora argentina do torneio, algo que me deixa mais feliz. “Você é brasileiro?”, indaga-me com a já conhecida de minhas respostas. “Sou sim. Ainda bem que alguém me entende”, resumo a responder, arrancando gargalhadas da simpática moça que trabalha em seu primeiro ano no torneio.

Vamos à ação! Na Philippe Chatrier quem está? Não! Só acredito vendo... Sim, é verdade! O gênio está trabalhando.. ou simplesmente Roger Federer. Quem acompanha um treinamento deste fenômeno do esporte – essa é a real palavra – “tem vontade de sair”, explica Emerson Lima, treinador de Thiago Alves que também não resistiu à tentação e foi conferir uma sessão do suíço. É impressionante a técnica apurada nos golpes da base, na aproximação à rede, voleios, smashs, defesa, ataque... É só escolher! Após o show, essa é mesma a palavra certa, a criançada vai até ele pedir um autógrafo, uma foto, uma recordação. Ah, que vontade de dar um bico naquela credencial e dizer: ‘Roger, pode tirar uma foto comigo?’ Profissionalismo, às vezes, é um banho d’água fria!

À tarde, encontro vários turistas brasileiros pelo caminho. Ah, como é bom, às vezes, ouvir o bom e tão discutido (inclusive por mim!) português. Nem se for o original como acontece em um restaurante perto de onde estou hospedado. É de Niterói, do Espírito Santo, Florianópolis, São Paulo, uma verdadeira cultura de miscigenação em plena França! No último jogo do dia, Rogerinho vence um francês que mais parecia estar dopado do que outra coisa – chegava em todas as bolas! – e me dá o direito de voltar para casa... às quase 22h! Da Porte D’Auteuil até a estação Louis Michel, onde sigo para meu covio, são cerca de meia hora. Chego, tomo um banho e saio, mas cadê Paris acordada quando mais preciso?

O dia amanhece muito rápido em Paris (é o desespero do acordar cedo!) e já pulo para o café da manhã reforçado do hotel. Ali, aguarda-me Dionne, aquela filha do Seu Felipe, que seguiu viagem pela Europa. A procuradora da fazenda, que mora em Brasília, é a calma em pessoa! Na base do “sou feliz e procuro viver à vida da melhor forma”, convida-me para passar a manhã do dia em um ônibus a fim de conhecer os principais pontos turísticos da cidade. Hesito e depois o trabalho que me perdoe, mas Paris não está aqui todo dia à nossa frente.

Descendo na estação Ópera, eu e Dionne seguimos passeio pela região do Moulin Rouge, da Galeria Laffayete, Praça de Madeleine. Porém, trocar de veículo é importante para mesclar com outra das quatro zonas principais do tour. O tempo é curto e, dessa forma, escolhemos a rota da Torre Eiffel. Assembleia Nacional, a bela estação de trem Garu du Nord, o Rio Sena, Arco do Triunfo e a belíssima Champs-Elysees eram realidades completamente distintas para um interiorano como eu há uma semana.

Uma da tarde e chegamos à vista exuberante da Eiffel. De todas as posições, fotos são bem-vindas com direito até deitado para encaixar a bendita Dionne à altura total da torre. Nem almocei (minha refeição seria dois sorvetes de baunilha no complexo) e já olho para o relógio. São 13:30h e o sentimento de culpa fala mais alto... finalmente! Em direção a Trocadèro... Roland Garros me aguarda!

Assim que boto o pé na quadra 11 para ver o jogo de Thiago Alves, o preparador Edu Faria me aborda: “Olha o soneca!” Pois é, tô pagando os meus pecados por fraquejar em um momento do cansaço acumulado de dias sem dormir, dores nas costas... Mas gosto de ficar perto de caras como eles.. Junto com João Zwetsch, Edu já passou muito tempo no circuito e conhece os macetes também para quebrar o gelo quando necessário!

Infelizmente, o brasileiro vem a perder, mas aproveito a oportunidade para dar um pulinho na Chatrier. Ontem teve Federer né, quem sabe não... Sim! Rafael Nadal está lá na companhia do fiel escudeiro, o tio Toni. Aproveito a estadia próximo da quadra para anotar algumas imagens do hexacampeão do torneio e que poderá fazer sucesso em 2012 se levar o sétimo caneco. Em minha companhia, uma jornalista russa. Arrisco um inglês e já tenho a simpatia da repórter de uma revista especializada e o contato para qualquer resposta de um jogador deles. Afinal, Copa Davis está aí, não pode-se esquecer que brasileiros estão no caminho da Perestroika novamente, mas me impressiona a própria Natalie: “Não sabia que pegaríamos o Brasil!” Parece que o “soneca” não é o único que anda dormindo...

No caminho de volta, a fome se junta com fraqueza e, talvez, preconceito contra os franceses. Desde o começo da viagem, já percebo que tanto homem quanto mulher, seja do engravatado até o mendigo, tem o mesmo cheiro! A lenda do perfume tem procedência, isso não é o que mais me incomoda, afinal São Paulo também tem metrôs superlotados, no entanto me assusta o certo desprezo com o odor que parece estar impregnado em mim... Chega a arrepiar! E quando o veículo vem lotado como foi ontem, que só fui chegar em casa no anoitecer da “late” Paris (a cidade começa a escurecer a partir das 21h), a sensação é pior. Não sei se vem dos trilhos do metrô, das ruas ou se posso estar “viajando na maionese”, mas não trocaria meu Brasil por nada no mundo! Não é crítica de forma alguma, é apenas uma impressão de quem está há cinco dias e observa muito bem as situações... 

Falar que vim a Paris e passei fome pode soar um absurdo para quem lê meus relatórios, mas comer bem ainda não me aconteceu na viagem! Capital da moda, principais metrópoles do mundo, organização perfeita da linha metroviária (isso não posso negar!), tudo isso cabe aos franceses. E a educação que achei que seria mais difícil por aqui ainda não repercutiu informações indesejáveis. O problema é quando você acaba expulso do restaurante à meia noite tentando fazer uma refeição decente! Me diga, quem no Brasil faz assim? Em jogo de futebol, daria morte no boteco. Aqui, já é outro dia. Como o tempo passa rápido! Bom, enquanto isso, vou vivendo...


Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França) - 25/05/2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

23:25 - 1 comment

Sinais..

Galera cearense realmente veio numa hora bom, meu Pai!

Nem dá tempo de repousar o corpo cansado e já me toca de acordar com o “toque” do hotel que pedi na noite anterior caso eu viesse a me exceder na cama! “O dia promete”, reflito ao conferir novamente minha rota ao local onde estive há menos de 12 horas. Na boa, já estou tão craque que nem preciso de mapa, porém quem dá sopa para o azar na primeira vez fora do casulo? Modéstia sempre! Desço para tomar café, mesas lotadas e sem xícaras para o leite com café que estou chamando desde o sonho passado. Será que é um presságio do mal por vir? A paranoia é interrompida por um: “Você é brasileiro?”

Um senhor de aparência de um pouco mais de 80 anos me indaga e, ao mesmo tempo, me dá a melhor notícia da viagem – não estou tão sozinho assim! O seu Felipe e sua família (composta pela esposa Teonila, as filhas Rejane, Dionne e Ana e Marcelino, marido de Rejane), naturais do Ceará, estão fazendo uma viagem pela Europa e, de repente, sento-me com eles como se já os conhecia há muito tempo... Apresento-me e peço o contato para poder registrar não apenas a fonte de um mero jornalista, mas a memória de conhecimento de uma vida inteira. Destino-me ao metrô para o primeiro dia oficial de Roland Garros. Na primeira linha, fico em pé observando, em meio ao mapa do vagão, uma menina de uns 6 anos de idade. Junto com a mãe, não tira o olhar dissimulado em minha direção, fingindo que avista um ponto perdido entre mim e o teto... Após algumas “fugidas”, ela volta a me encarar e parece não assustar com a retribuição do favor. A mãe, do lado, a abraça e pede para que se sente direito. A criança, por sua vez, quer um beijo, mas a mãe se recusa a conceder o desejo.

É importante perceber duas coisas.. Não tem jeito, brasileiro se apega demais à questão da família, do carinho, da passionalidade nas relações (e eu me incluo!). O francês remete mais à independência precoce, ao equilíbrio e ao sangue frio para evitar “melosidades”, o que me parece claro naquele momento. Muitos afirmam que meu ponto forte é o fato de ser extremamente observador e contar muito com o “olho no olho”. Porém, para estes “cantos”, ficar no metrô é fazer o exercício diário de não olhar diretamente para alguém por  tal margem de tempo, o que, para mim, é sufocante nos 40 minutos de condução!

Conhecer a Philippe Chatrier já é um sonho realizado em Paris!
Ao descer em Porte D’Auteuil, dou de cara com três sujeitos que carregam equipamentos de televisão (câmeras, microfones, fios etc). O idioma francês característico me mantém um pouco afastado, mas a curto prazo. “Please, do you speak English?”, começo. “A little”, arrisca o jornalista de uma TV local do sul da França. Indago-o se ele e os demais colegas vão para Roland Garros. Por conta da afirmação, apresento-me (“je suis bresilien”) e peço orientação sobre o portão para a imprensa. “Follow us”, continua o repórter.

Na entrada, um susto! O segurança recebe das minhas mãos a autorização para a credencial, porém exige que vá até a área dos jornalistas e adquira lá o bedge (a credencial física). Dessa maneira, voltaria ao portão e o entregaria o crachá provisório, adquirindo de volta o passaporte que acabou ficando como “garantia”. Aperto o passo e chego à enorme quadra Philippe Chatrier. Depois de ter conhecimento do caminho (um “right" aqui, “left" ali, “straight”...), entro por uma porta de vidro com três pessoas à minha espera. Escolho aquele teoricamente que fala melhor o inglês, porém a mais simpática figura vem ao meu encontro: “Você é brasileiro?”

Não é possível! Outro sinal? “Sou”, resumo. “Ai, graças a Deus, você fala português”, emendo com os olhos brilhando de alegria!  Tenho acesso às salas de imprensa (mesmo sem ter lugar, porque todas já estão reservadas! O jeito é me acomodar na zona IBM, algumas bancadas no corredor ao lado...), recebo a credencial propriamente dita e volto ao ponto de partida em busca do passaporte.

Dali, já é meio caminho dado para as quadras, que já estão movimentadas com as primeiras partidas do quali. Dirijo-me para a número 15, onde Júlio Silva vai jogar. Aparentemente, há mais gente torcendo para o adversário do brasileiro (o espanhol Daniel Munoz-De La Nava) e, de repente, avisto à ilustre presença do simpático João Zwetsch, capitão do Brasil na Copa Davis. Ao lado do preparador Edu Faria, o técnico acompanha mais um ano do Grand Slam francês. Logo depois, Thiago Alves e o treinador Emerson Lima tentam dar ânimo para Julinho, que não parece estar feliz com o desempenho em quadra. Minutos depois, sai de quadra com o revés. Nem quer papo. Eu, tentando me manter longe de problemas, afasto-me e me permito a conhecer o complexo. A Suzanne Lenglen, a Quadra 1... Arquiteturas magistrais, cada pedra levantada parece ter sido planejada com todo cuidado.. Dou-me ao luxo de pedir a León, um fotógrafo holandês  muito simpático, para registrar alguns ângulos desta belíssima visão. Minutos mais tarde, é a vez da Chatrier. Que sonho!

Suzanne Lenglen também era prioridade para conhecer em Roland Garros
O dia é pesado. Ainda não me acostumei com o fuso e, mal olho para o relógio, já são quarto da tarde. Paris continua cinzenta, porém a chuva cessa. Bom para o tênis. Na partida de Rogerinho, aproveito para conectar da sala de imprensa do torneio (mesmo não tendo acesso, burlo a orientação por me ver diante de uma cabine vazia! Que mal pode me fazer?) Logo a seguir, passo as fotos para o computador e vou à mesma quadra 9 para o jogo de Thiago. O cansaço me atinge e os 10 minutos de puro cochilo espontâneo são um “prato cheio” para aguentar a gozação. “Tá bem aí, nosso fotógrafo?”, pergunta o fanfarrão Edu Faria. Joãozinho (como chamamos João Zwetsch) e Emerson também caem na risada... Que fase, hein!!

Com o fim do tour pelas quadras, o dia vai chegando ao final em Roland Garros. Não consegui falar direito com nenhum brazuca após as partidas e, mesmo esperando por alguém sair da área restrita aos jogadores (imprensa não tem acesso a esse setor), desisto e sigo em direção ao metrô. Não parece pela claridade, mas já são 20:30h! Os quarenta minutos seguintes são os piores até aqui na condução do transporte metroviário. Realmente senti-me uma sardinha enlatada, assim como no avião de Guarulhos-Munique. Hotel e cama, finalmente. Fim de jornada? Nem tanto. Dá tempo para uma refeição simples (já que passa da meia-noite e todos os estabelecimentos fecham depois de tal horário!) e uma companhia ótima com Marcelino, Dionne, Ana Maria e Rejane.. E eu que sempre achei, por vezes, difícil compreender o sotaque nordestino em solo brasileiro. Impressões de lado, comemoro: como é bom ouvir essa voz, Méééééu Dééééus!



Por Matheus Martins Fontes
23/05/2012 - Paris, França

segunda-feira, 21 de maio de 2012

17:06 - 1 comment

Saindo do casulo

Mon Dieu. Que dia ou seriam dias? Afinal, 12 horas de viagem para Munique e mais uma e meia para Paris, contando fuso horário, atraso de conexão, condução do metrô até o hotel... Bom, para vocês verem como esse post vai ser de, qualquer forma, injusto. Se me deixarem escrever desses dois dias em particular, quem me conhece sabe que ficarei até amanhã relatando e os defensores da objetividade no jornalismo vão me jogar praga. Mas vamos lá! Lágrimas na ida, mãe, pai e tios à minha espera e eu não me suportando em emoção... como sempre!


Não foi fácil encarar a primeira viagem para fora do país...e sozinho!
Antes, o máximo que havia ficado em um avião era em torno de 4 horas para alguma jornada ao nordeste brasileiro. Agora, a realidade era outra – sozinho, em uma janela quase espremido, morrendo de dores nas costas e ainda por cima me sentindo que estava em um grupo de diplomatas em algum escritório da Alemanha – homens com aquela aparência gélida, olhos azuis, mulheres loiras e com aquele ar de “no mínimo, fale inglês, meu bem!” Pois bem, creio eu que me saí bem, pois tudo que pedia fui atendido (o lenço para o bendito nariz que insistia em entupir, a água para tomar a ‘porrada’ de remédios para pneumonia!) e sem nenhum pio.

À medida que chegávamos próximos de Munique [primeira escala internacional], a tensão me tomava conta. Peguei o guia de francês que comprara em Guarulhos e fui tentando memorizar algumas palavras e frases-chave para saber me virar na capital francesa às escuras... mas nem precisava! Um homem que aguardava insistentemente a fila do banheiro me orientou dizendo que havia uma garota que faria conexão a Paris também. Malu, de 28 anos, estudante de moda, foi a minha espécie de “anjo da guarda”. Primeiro, me acalmou quando o fiscal da imigração em Munique fez cara grossa quando mostrei os documentos e os equipamentos que levava junto à bolsa. Depois, quando chegou em Paris. Esperou-me junto ao desembarque e foi comigo ao encontro da minha bagagem. O que fazer? Taxi ou metrô?

Mesmo descendo no meio da rota que realizei, Malu me passou a segurança que precisava para seguir as linhas do organizado e movimentado metrô francês. Neste piscar de olhos, deu para perceber o quão é mágico esta vivência em uma segunda-feira comum em uma das maiores cidades do mundo – trabalhadores ambulantes, advogados, empresários, mendigos, negros, brancos, cantores, todas essas vidas se completando exatamente como acontece no subsolo de Paris – numa encruzilhada de sensações antagônicas.

Metrô de Paris reserva muitos choques culturais no dia a dia
Fiquei impressionado com minha capacidade de localização (e também de perguntar sem nenhum pudor, mas com o excesso de gentileza!), porém paguei mico, confesso, no instante em que decidi arranjar o bilhete para uma semana do sistema metroviário. A mulher do caixa capengava no inglês e eu o mesmo na sua língua mãe. Resultado? Mais mímica do que qualquer coerência cognitiva. Um emaranhado de informações que fingia compreender e a simpática senhora em seus 40 e poucos anos mantendo o bom humor, explicando passo a passo do que deveria fazer... tudo em francês! O metrô, pelo menos nesse primeiro dia, não fedia à urina como muitos me avisaram, mas os franceses parecem ter um odor característico em comum – algo que remete a uma dose de frieza e praticidade para encarar a rotina do transporte rumo à rotina inabalável de suas vidas! 

Eu, à mercê de tudo isso, acompanhava cada estação e me surpreendia – até Franklin Roosevelt tem aqui e eles têm problema de falar inglês? Ah vá! De um jeito ou de outro, chego na belíssima Porte d’Auteuil, porta de embarque para uma belíssima vista de Paris. Infelizmente, o mau tempo não permite que a aparência seja das melhores pelas fotos! Do meu lado, uma garota com raqueteira nas costas me ajuda a compreender o que vejo nas placas à frente – Roland Garros a caminho! A organização do torneio, creio eu, colou imagens de bolinhas nas calçadas como se os fãs pudessem seguir “as migalhas” do saibro parisiense nas ruas. Em um passeio pela fria Paris nos seus 10 graus, contentei-me em tirar fotos do que sempre fui acostumado a acompanhar pela TV – a grandiosa arquitetura externa da Philippe Chatrier. As bandeiras, o glamour, o vento, o cheiro, os boleiros andando em filas, crachás aqui e ali...

Pelo um dos poucos instantes que me desvencilho do segurança, vejo todas as quadras cobertas – devido, obviamente, ao mau tempo – e nem ainda creio que estou dentro de onde Guga reinou por três vezes. Local que Borg fazia história com suas próprias mãos. Agora, Nadal pode fazer história e, pelo que mostrou na final da nem tanto longínqua Roma diante de Djokovic, é o grande favorito pelo histórico hexa! E eu, como um para-quedas, no meio de tudo isso! Só pode dar em pizza... e deu mesmo (literalmente)! Só está começando ou será que já começou?


Roland Garros abre portões para fãs nesta terça com o qualifying
CURTINHAS: Nesta terça-feira, Roland Garros dará início à fase qualificatória, ou seja, os tenistas que não tiveram ranking suficiente para entrar diretamente na chave principal (composta por 128 jogadores) passarão pela fase prévia, em que são necessárias três vitórias até a próxima sexta-feira. Pelo Brasil, Rogério Dutra Silva, Thiago Alves e Júlio Silva estarão em ação em busca de dar ao Brasil mais lugares no quadro (Thomaz Bellucci e João Souza já estão garantidos na chave principal).

Para quem aguarda eu falar das feras Nadal, Djokovic, Federer, Sharapova, Serena Williams e Cia, é necessário aguardar até o próximo domingo, quando iniciam-se os jogos da chave principal. Porém, enquanto isso, eles podem (e devem!) aparecer com antecedência no complexo para se prepararem ainda mais para o Major do saibro. Será que vai rolar uma palavrinha com um desses? Uma foto, quem sabe? Eu continuo por aqui...



Por Matheus Martins Fontes
22/05/2012 - Diretamente de Paris, França

domingo, 20 de maio de 2012

00:30 - 4 comments

O APRENDIZ...


São José do Rio Preto. 4 e 22 da manhã. De repente, acordo com o sono que já me passou despercebido após um dia agitado com rotina de hospital e volta forçada para casa... Mando uma mensagem a uma amiga especial e o dia começa ali. Já penso: depois de amanhã, estarei em algum lugar do Oceano Atlântico a caminho de um sonho de qualquer turista. Imagine de um repórter em sua primeira experiência fora do país! A ansiedade me dá bom dia, mas bem mais rápido do que eu esperava...

Acordo meus pais como uma criança infernal com insônia que vai importunar os coitados que já estão no 14º sono! Mas eles não reclamam, afinal, daqui a dois dias não estarei mais no seu alcance visual. E por mais 21 dias! É dessa forma que defino a véspera do meu propósito deste blog, que é contar as experiências vividas em um dos maiores palcos do esporte mundial e não apenas do que rodeia o cenário do tênis. Cobrir Roland Garros, ali mesmo onde um tal de Guga (para os mais leigos) venceu “alguma’’ vez atrás, pode parecer desinteressante por englobar interesses de fãs específicos por uma modalidade que, no Brasil, já é enterrada como de elite!

Derrotar Nadal em Roland Garros? Só em sonho mesmo!
Tudo bem. Mas o palco disso tudo, Paris, já não quer dizer muita coisa? Ou precisa de muita explicação? Uma cultura para poucos e  influentes a muitos! Arquitetura fascinante, cartões postais que já transbordam a ideia de “única” da bela Torre Eiffel ou do riquíssimo Museu do Louvre! Política efervescendo no território em que o Partido da oposição se levanta ao trono depois de quase duas décadas! Sério, alguém aí ainda tem dúvida que tênis/esporte não tem ligação com isso tudo?

Passei o dia sob efeito de remédios e mais outras coisas, mas confesso que não fiquei dopado. A empolgação me fez simular que ganhava de Rafael Nadal em uma partida para lá de utópica nos cantos do meu quarto  (Juro, não era "dorgas"!) e a imaginação foi tamanha que deu tempo de simular um momento de protagonista nas futuras coletivas de imprensa, apenas para “treinar” meu inglês enferrujado! 

Comprar as últimas roupas, cortar o cabelo, fazer a barba, falar com o chefe por quase uma hora a respeito do que vou enfrentar lá “no meio do mundo”, conversar com outro amigo para me dar as diretrizes de como começar um diálogo com os cidadãos, mas nunca prolongá-lo... Confesso que não vejo a hora de um: "Je suis bresilien et je ne parle pas français. Vous pouvez parler anglais avec moi?” Para os não-poliglotas (assim como eu!), é mais ou menos um “não falo quase nada de francês. Pelo amor de deus, pode falar inglês?”  Bom, o desespero só não foi maior do que saber qual caminho pegar do aeroporto até o hotel em que vou ficar hospedado na Cidade-Luz. Metrô, RER, linha não sei das quantas, estação aqui, estação lá, troca de metrô, lotação foram algumas das palavras que não saíram da minha cabeça. Até quando vos escrevo esse texto. Bom, mas para quem está pensando que esse dia foi um inferno, nem tudo foi ruim. Aliás nada disso foi ruim, é apenas novo para mim, um mero caseiro!

O clima de “despedida” animou minha família, muitos vieram ao meu encontro (até mais pela complicação da pneumonia, talvez), houve muita bajulação da mãe e da tia, tá podem me chamar de mimado! É complicado ser filho único e ainda o mais novo dos primos... Mas não deixa de ser legal, afinal serão 23 dias longe daqueles que nunca fui acostumado a passar tanto tempo afastado. E os amigos? Nem tenho como agradecer e só posso pedir a vocês que torçam por uma bela cobertura, uma bela viagem e bastante inspiração para escrever aqui uns 10% do que viver naquele lugar mágico...

O ato do bom jornalismo. Tomara que o inglês não me deixe na mão na terra de francês. E agora, Bruno? O que fazer? 







Há seis meses, essa ideia parecia distante por milhões de anos-luz, porém agora está tão perto... Tão perto e longe. Dois antônimos que vão me mostrar um pouco do que vou sentir por vocês, meus amigos e também, (por que não? e sem largar a modéstia), meus caros leitores! Espero que essa reflexão com cara de desabafo ilustre um pouco a tensão e ansiedade do que me aguarda a poucas horas - a maior experiência de minha vida por si só... Até lá, eu continuo por aqui! Ae revouir... às 0:32h ainda de Brasília!


E não deixem de acompanharem a partir de terça-feira os posts sobre o melhor de Roland Garros, o segundo Grand Slam da temporada, diretamente de Paris!



Acessem www.revistatenis.com.br e não deixem de curtir nossa página no Facebook (facebook.com/revistatenis). No Twitter, não é diferente - @revista_tenis!


E para contato direto ou alguma dúvida, mandem para matheus@innereditora.com.br. 
twitter - @fontes_matheus! Espero que gostem!!




FOTOS: Ron C. Angle (TPL) - Rafael Nadal
            Alexandre Cossenza - Bruno Soares em entrevista


Por Matheus Martins Fontes
20/05/2012 - 0:32h