sábado, 22 de setembro de 2012

10:53 - No comments

Sem moleza na volta!


Brasil voltou à elite da Copa Davis após vitória por 5 a 0 contra a Rússia

Por Matheus Martins Fontes

Pouco mais de nove anos depois do fatídico confronto diante do Canadá no carpete de Calgary, em que saímos derrotados por 3 a 2 e começaríamos, ali, um longo processo de reestruturação do tênis nacional, estamos novamente na elite da Copa Davis. A fácil e esperada vitória contra o obsoleto time do “czar” Shamil Tarpischev no saibro de São José do Rio Preto colocou de volta a equipe canarinha no primeiro pelotão do torneio entre nações. 
Estar novamente no bolo dos 16 melhores times do mundo já era algo que o grupo de João Zwetsch estava merecendo e tinha batido na trave nos últimos seis anos, com direito a reveses frustrantes, como contra o Equador em 2009, jogando em Porto Alegre, e diante da Índia no ano seguinte, quando Thomaz Bellucci e Cia chegaram a liderar o confronto por 2 a 0.
Porém, o que se viu no Harmonia Tênis Clube foi um baile – a Rússia não veio com seus dois principais jogadores da atualidade – os veteranos Mikhail Youzhny e Nikolay Davydenko, os quais já pintaram no top 10 há algumas temporadas, não viajaram ao interior paulista. Pretexto? Bom, segundo as palavras da tradutora do time (muito fraca, por sinal), “não tinham condições físicas de atuar sob o forte calor de Rio Preto”. Estranho, já que os dois haviam disputado o US Open uma semana antes, praticamente nas mesmas condições de temperatura. “Mas perderam”, lembrou o capitão russo sobre o fraco desempenho dos mesmos no torneio americano.
Ora, a equipe formada por Alex Bogomolov, Igor Andreev, Teymuraz Gabashvili e Stanislav Vovk (o último não jogou o Grand Slam em Nova York) não tinha feito muito melhor – todos perderam na estreia do Aberto dos EUA. Então, mais “migué” que essa desculpa, foi o fato dos tenistas europeus não responderem se concordavam com uma mudança na comissão técnica do país logo depois do desfecho do embate. Quem cala, consente. Não é?
Desfalcada, Rússia não deu trabalho para o Brasil em São José do Rio Preto
Tarpischev já está há muito tempo no comando do time na Copa Davis, na Fed Cup (edição feminina) e é presidente da Federação Russa de Tênis. Tudo bem que o maior sucesso da nação na modalidade veio na última década, com dois títulos na competição masculina e quatro na feminina durante a sua gestão. No entanto, já faz tempo que não aparece um novo expoente entre os homens, aliás a nova geração russa vive estagnada e os que arriscam um brilho “pulam o muro imaginário” e buscam a naturalização pelos países que nasceram da ex-URSS, como o Cazaquistão, que está no Grupo Mundial em 2013. Nem parece de longe aquele esquadrão fortíssimo com Yevgeny Kafelnikov, Marat Safin e os próprios Youzhny e Davydenko.
Os 5 a 0 comprovaram que o Brasil, mesmo sem um número 2 de simples constante e polivalente em qualquer superfície, tem lugar no Grupo Mundial. Havia uma grande expectativa pelo sorteio da Federação Internacional de Tênis (ITF) na última quarta-feira. O time tupiniquim tinha chances de atuar em casa e até um confronto diante da atual campeã Espanha, de Rafael Nadal, seria comemorado. Ou contra a Sérvia de Novak Djokovic (caso cruzássemos contra os sérvios, seria necessário outro sorteio para definir a sede do duelo). E até alguns dos confrontos possíveis fora de casa eram aguardados. Afinal, um Brasil e Argentina não significa rivalidade pura apenas dentro dos campos.
Dupla brasileira tem vantagem contra os Bryan
Mas acho que ninguém esperava ou queria, acho que o último verbo é a melhor definição, um confronto diante dos EUA. O time brasuca venceu apenas um dos quatro confrontos que realizou contra os maiores campeões da Davis (total de 32 vezes) e isso aconteceu em 1966.
Naquele duelo, Thomaz Kock e Edison Mandarino jogaram a favor do público na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, e bateram o fortíssimo quarteto formado por Arthur Ashe, Cliff Richey, Charles Passarel e Dennis Ralston por 3 a 2. Nos outros três confrontos – Forest Hills/1932, Boston/1957 e Ribeirão Preto/1997 –, foram os americanos quem sorriram no final. E, como o último duelo aconteceu no interior paulista há 15 anos, os brasileiros terão que viajar em fevereiro.
Diria que é um confronto chato, já que, além dos EUA atuarem diante da sua torcida e num piso rapidíssimo como de costume, seus “soldados” não dão ritmo em quadra. Provavelmente, a equipe comandada por Jim Courier – ex-jogador que atuou no confronto em Ribeirão – virá com John Isner e Mardy Fish/Sam Querrey nas simples e os irmãos Bob e Mike Bryan para as duplas. A análise é muito simples.

RETROSPECTO
Thomaz Bellucci (BRA) lidera 1x0 contra John Isner (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) 0x0 Mardy Fish (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
Ricardo Mello (BRA) empata em 1x1 contra John Isner (EUA)
Mardy Fish (EUA) lidera 2x1 contra Ricardo Mello (BRA)
Ricardo Mello (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
Mardy Fish (EUA) lidera 1x0 contra Thiago Alves (BRA)
Thiago Alves (BRA) 0x0 John Isner (EUA)
Thiago Alves (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 John Isner (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 Mardy Fish (EUA)
João Souza (BRA) 0x0 Sam Querrey (EUA)

Isner, 11º do ranking, tem 2,06m e seu saque numa quadra veloz, como deverão indicar para o embate em 2013, fará estrago no time brasileiro.  Fish ou Querrey também não fogem à risca. Se os seus serviços não são eficientes como os do seu compatriota, os mesmos são capazes de colocar pressão para quem está do outro lado da rede. E precisa falar alguma dos irmãos gêmeos? Melhor dupla da atualidade (e da história!), 12 títulos de Grand Slam, medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres... O currículo assusta e intimida o banco brasileiro.
Ainda é muito cedo para definir quem estará em quadra entre 1 e 3 de fevereiro, porém Thomaz Bellucci, Marcelo Melo e Bruno Soares, ao meu ver, não perdem seus lugares. A incógnita, como vem sendo um dilema nos últimos anos, é a seguinte – e o nosso segundo simplista? Nessa temporada, Feijão e Rogerinho tiveram suas chances. Apenas o segundo aproveitou, porém as partidas aconteceram no piso lento, muito diferente do que acontecerá na próxima temporada.
Minha opinião, apesar de ser precipitada a essa altura, é que Thiago Alves, Feijão ou Ricardo Mello devam disputar o segundo posto na equipe de João Zwetsch. E com uma equipe com Bellucci, Alves/Feijão/Mello, Melo e Soares, o País ainda é inferior ao time americano. Nossas chances dependerão, como sempre, em Thomaz e na parceria brasileira.

PALPITE DO SONHADOR (!?!)
EUA 1x3 BRASIL
Thomaz Bellucci (BRA) d. Mardy Fish ou Sam Querrey (EUA)
John Isner (EUA) d. Thiago Alves/Ricardo Mello/João Souza (BRA)
Marcelo Melo/Bruno Soares (BRA) d. Bob Bryan/Mike Bryan (EUA)
Thomaz Bellucci (BRA) d. John Isner (EUA)

É claro que o melhor seria um 2 a 0 para nós ao término da sexta-feira, mas sejamos realistas e um 1 a 1 já estará muito bom, acreditando que Bellucci confirme o favoritismo sobre o número 2 deles – Thomaz nunca enfrentou Fish ou Querrey. O sábado reservará o grande ponto-chave para nossa equipe. Por mais que os Bryan assustem, Melo e Soares possuem um retrospecto favorável contra os americanos – 2 a 1 no circuito profissional. Mas vencê-los em sua casa é uma tarefa das mais indigestas e que ninguém, em Copa Davis, ousou a fazer antes. Será?
Na melhor das hipóteses, Bellucci precisaria vencer os dois jogos contra os EUA em fevereiro
Com um triunfo dos mineiros, Bellucci entraria no domingo com a responsabilidade de fechar o confronto. Mesmo que o aspecto mental não seja o dos mais fortes do brasileiro, ele tem provado sua evolução no torneio e confirmou as expectativas quando foi preciso diante da Colômbia e Rússia. E contra Isner, o paulista tem 1 a 0 a seu favor. Tudo bem que o jogo aconteceu no saibro, mas serve como fator de motivação.
Empenho e garra não vão faltar ao time de Zwetsch, isso tenho certeza. A questão é que se isso vai ser suficiente para aprontarmos a maior zebra da primeira rodada do Grupo Mundial no ano que vem. Em relação ao nosso número 2, o início do ano – principalmente o desempenho no Aberto da Austrália – será decisivo para indicar o escolhido. É bom ficar de olho desde já em Alves, Mello e Feijão. Tomara que todos (ou talvez algum outro que surpreenda com uma arrancada surpresa nesse final de 2012) mostrem bom nível nesse período e deem uma “bela dor de cabeça” para Joaozinho. Ficou difícil, mas nossa equipe é de elite. Se nos subestimarem, é bom negócio. Vamos torcer! Que venham os EUA!!

Fotos: Luiz Pires/FOTOJUMP

sábado, 23 de junho de 2012

19:27 - No comments

Negócio é grama!


Eu sei que o propósito deste blog era, primeiramente, retratar o dia a dia de minha rotina em Paris durante o sonho da primeira cobertura de um torneio Grand Slam. Roland Garros foi algo sensacional, único e que rendeu inúmeras histórias para contar. Mas já é passado. Agora, o cenário mudou - a moda do momento são as quadras de grama do All England Club. Sim, o glamour parisiense dá lugar à tradição britânica de Wimbledon. Quem gosta de etiquetas estará no lugar certo! E eu continuo aqui em sintonia com o circuito, mesmo de longe!


A partir d2a feira, terá início o torneio de Wimbledon, o mais antigo da história do tênis
Enfim, o Grand Slam inglês é o mais antigo da história do tênis. Desde o longínquo ano de 1877, o gramado de Londres recebe os principais expoentes deste esporte que mantém o branco como exigência máxima apenas neste evento. Por ali, muitos fizeram por merecer seu lugar de honra nos livros dos recordes - ainda na era amadora, o britânico William Renshaw reinou por sete temporadas entre 1881 e 1889; no profissional, quem não se lembra da hegemonia de Pete Sampras também por sete vezes entre 1993 e 2000? E Federer que busca igualar os dois após dominar o território desde sua primeira conquista desde 2003?


Além disso, Wimbledon reserva marcas que vão além da compreensão dos mais leigos. Como se sabe, a grama é a superfície mais rápida existente no circuito. Ou seja, os pontos, teoricamente, terminam de forma mais rápida, com prioridade para poucas trocas de bola do fundo da quadra, tão normal no saibro. Então, dessa forma, os sacadores têm vida mais longa em condições como essa. Mas como explicar que o jogo mais demorado da história do esporte veio justamente no local que isso é mais improvável de acontecer?


Pois é, John Isner e Nicolas Mahut provaram isso em 2010. 11 horas e 05 minutos, ao longo de três dias. O placar? 70 a 68 no quinto set. Pode? Isso é Wimbledon! O mesmo palco que protagonizou o duelo entre duas lendas - Federer x Sampras fizeram o único duelo no profissional ali naquela quadra central há 11 anos. Lembro que o Brasil não havia comprado os direitos de transmissão do torneio, porém acompanhei pelo Live Score. Depois, com o advento do Youtube, tudo ficou mais fácil. Isso tudo é Wimbledon, um clássico entre gentlemans!


Sem querer desmerecer toda a experiência e o privilégio de estar em Roland Garros, um marco para qualquer jornalista que quer seguir essa carreira, mas, with all do respect, Wimbledon é o templo sagrado do tênis. Sem mais. Um dia estarei ali. E, todos que me acompanharam por 23 dias, sabem que cogitar tal destino está longe de ser um sonho distante. Me aguardem!






CURTINHAS:


Para 2012, a chave masculina reserva mais uma vez o possível desfecho de quase todos os grandes eventos recentes - atual campeão e número 1 do mundo, Novak Djokovic estreia contra o espanhol Juan Carlos Ferrero, ex-líder do ranking. É difícil prever que o sérvio caia antes de uma provável quartas de final, mesmo com Juan Monaco, Richard Gasquet e Nicolas Almagro pelo caminho. O "chato" Radek Stepanek também preocupa num piso veloz como este, porém acho difícil roubar mais que um set de Nole. 


Wimbledon reserva grandes histórias - em 2010, Isner e Mahut fizeram o jogo mais longo da história
Quando sobrarem oito jogadores, seu possível rival será o tcheco Tomas Berdych, vice-campeão em 2010 e algoz de Federer no ano passado. Na semi, pode reeditar a semifinal de Roland Garros com o suíço, que depende APENAS DE SI MESMO (vocês leram certo!) para voltar à liderança do ranking após o torneio. Tudo porque Federer dependia que Djokovic não alcançasse a final e Nadal não conquistasse o título. Se mostrar todo o seu potencial que apresentou por seis vezes em Londres, o Rei voltará ao topo. Na estreia, desafiará o talentoso espanhol Albert Ramos, que faz mais sucesso nas quadras mais lentas. 


Em sua rota, deverá não encontrar problemas com Fernando Verdasco, Gilles Simon, tampouco com Janko Tipasarevic, seu maior candidato (pelo ranking!) a adversário nas quartas. Um perigoso teste seria o americano John Isner, que pode complicar muito para o número 3 da ATP em uma quadra de grama. Porém, acho que até as semifinais, Roger confirma.


O Brasil que já não faz sucesso em simples há uma década - quando o mineiro André Sá ainda priorizava as competições individuais e chegou às quartas de finais, perdendo para o ídolo local Tim Henman em quatro sets - deve ter vida muito curta nesta edição. Thomaz Bellucci, único representante entre os 128 jogadores, caiu justamente contra Rafael Nadal, bicampeão do torneio e que vem do embalado sétimo troféu em Roland Garros.
Federer pode sair de Wimbledon como número 1


Talvez a possível falta de ritmo de Rafa em uma rodada inaugural de um Grand Slam, principalmente num piso traiçoeiro como a grama, possa aumentar um pouco as mínimas chances de uma zebra. Se vencer um set, já é muito para o paulista, que nunca passou da terceira rodada na Inglaterra. E o número 1 do Brasil segue caindo na tabela, ocupando hoje o 80º lugar.



Nadal tem um caminho mais complicado até uma semifinal contra o queridinho Andy Murray. Em sua rota de colisão, encontram-se os perigosos alemães Philipp Kohlschreiber (seu algoz em Halle) e Tommy Haas, o versátil ucraniano Alexandr Dolgopolov, o americano Mardy Fish, o australiano Bernard Tomic, o suíço Stanislas Wawrinka e, finalmente, o francês Jo-Wilfried Tsonga. Não vai ser fácil para o ibérico conseguir o tri em Londres este ano!


Para Murray, a trilha também é árdua, começando pela estreia contra o imprevisível Nikolay Davydenko, que, há três anos, era o número 3 do ranking. Em seguida, o croata Ivo Karlovic já assusta (na primeira rodada de 2003, o gigante de 2,08m tirou Lleyton Hewitt, quando o australiano era líder da entidade e estava defendendo o título), seguido de um duelo contra o canadense Milos Raonic nas oitavas. Juan Martin Del Potro, David Ferrer e Andy Roddick, para completar, podem cruzar com o escocês nas quartas. É, Grã-Bretanha! Torcida vai sofrer novamente... Volto amanhã para analisar a chave feminina e as duplas!




Por Matheus Martins Fontes
23/06/2011

sexta-feira, 15 de junho de 2012

15:23 - No comments

Grand finale


Dois dias de final. Quinze horas de voos. Prazo para entrega de matérias. Fuso horário. Ufa... descanso! Estou novamente no Brasil e curto as poucas horas que me restam de “miniférias” merecidas do trabalho, da faculdade, da vida! Porque o que foram esses 23 dias, hein? Já demorei demais para escrever sobre o desfecho da viagem. E que desfecho! Vamos lá!

Dimanche. Em português, “domingo”. Tudo começou com mais um passeio pelo subsolo parisiense, naquele que seria o último até Porte D’Auteuil. A princípio. Ao sair da estação, o céu encoberto já me dava um frio na espinha e relembrava o que Chiquinho havia me dito na festa de quinta: “Essa final vai pra segunda!” Não!!!! Não pode ser! Não era a preocupação por ter que ir embora no domingo.. A passagem era pra terça-feira! Talvez nisso eu tive sorte. Mas porque o cansaço já era algo nítido. “Que acabe hoje”, desejava. Em vão.

A poucos metros de mim, Nadal fez história em Paris
Chegara na hora certa. Tribuna quase lotada para ver o clássico decisivo dos últimos quatro Grand Slams – de um lado um espanhol querendo derrubar mais um tabu e provar ao mundo que, pelo menos nos números, nunca haveria alguém igual no saibro; o outro buscando provar que é, sim, possível ser o melhor em todos os maiores torneios do circuito de forma consecutiva. Afinal, nem Federer, nem Sampras, nem ninguém igualou a marca de Rod Laver, em 1969.

Falar que Nadal era simplesmente imbatível na terra foi algo que sempre entendi vendo pela televisão, as imagens não mentem. Mas vê-lo ao vivo é outra coisa. Você, concretamente, entende o porquê de ele derrubar um por um, de desestabilizar seus rivais aos poucos – e se engana quem fala que o ibérico só se baseia na defesa. Consistência, meus caros. Acho que, na minha modesta opinião de novato, é a palavra que o define. Djokovic, coitado, fazia o que podia. Meu colega Elcio, da Radio França, soltava: “Pô, mas o Djoko tá errando demais!”

É verdade. Mas reflitam – o que faz um tenista errar demais contra um tenista como Nadal? Falta de paciência? Displicência? Não. Um jogador, da categoria do sérvio, é apenas mais um que acusa o golpe diante de um superatleta como Rafa, o qual sempre faz o adversário sempre ter que vencer cada ponto, nunca entrega bolas de graça, força o oponente a procurar mais as linhas, porque, caso contrário, ele chega. E como chega – com condições de passar como ninguém! O descontrole é algo que eu próprio sentia ao ver Djokovic sem respostas. Foi a história dos dois primeiros sets, o sérvio lutava, a torcida apoiava (em sua maioria!), mas, no fim, Nadal sempre tinha a cartada na manga. O “Djoker” estava entregue? Sim, parecia.

Djokovic foi um dos 7 que tentaram.. em vão parar  Nadal!
No terceiro set, Rafa já derrubava o saque de Nole. Dirigi-me à cadeira de Elcio: “Xi, agora acabou!” E o tempo já parecendo fechar, não tive dúvidas de que um triunfo do espanhol era uma questão de tempo. Como emendei depois: “Era inevitável”. Queimei a língua. Djokovic devolveu a quebra e, numa reação quase que impecável, anotou oito games seguidos. Ou seja, de 0/2 fez 6/2 no terceiro e já abria 2/0 com quebra na quarta parcial. É possível? Antes de qualquer resposta a essa última dúvida, o “outro” inevitável decidiu dar os ares – a chuva. Incessante até parar. Por volta das 20h locais. Poderiam até voltar. A organização, no entanto, não deu o braço a torcer. Primeira decisão em 39 anos que seria definida na segunda-feira. Quem disse que em terra de francês não há espaço para o Tio Sam? (há quatro anos, a final masculina do Aberto dos EUA é jogada na segunda!).

De volta ao hotel debaixo de chuva. Mal dá tempo para dormir e já volto de manhã. Não há chuva, porém o tempo não é dos melhores. A tribuna nem está tão cheia assim, mesmo acontecendo nas arquibancadas, afinal alguém precisa trabalhar fora das quadras de segunda, não? Não entendo a imprensa. Na verdade, compreendo. “See you at Wimbledon”, é a frase que mais ouço dos que teimam em ir. Respeito, mas não concordo. Esse jogo é um marco para o tênis. Não haverá outro dia! E nem quase deu tempo.

Nadal, como sempre uma pilha, voltou melhor para o jogo e devolveu a quebra, mantendo o equilíbrio do set. No 5/5, “ah, não”, soltei. Começava a chover novamente. E eu, sem papas na língua: “Essa por#%$ vai acabar hoje!” Os argentinos eram uma risada só. Os ingleses olhavam com desprezo. Bem-vindo ao Brasil, camarada! O mau tempo não é suficiente para a interrupção. O jogo volta, Djokovic levanta da cadeira, mas não “volta”. Nadal, pelo contrário, vai, volta e espera. O público também.

O momento daquele 30/40, daquele match point, daquele silêncio ensurdecedor... Juro que nunca deu para ouvir tão bem o som da bolinha tocando ao chão mesmo a 100 metros de distância! Arrepiou-me. No momento em que pensei que tudo aquilo estava próximo de acabar. E acabou! Dupla-falta? Não interessa. Juro que me levantei e aplaudi o gênio que se formara naquela quadra. O cumprimento na rede com o rival. Depois o juiz. A glória com a torcida. O choro. O abraço. O carinho. O reconhecimento. O mostro.

Para os amantes do tênis, é impressionante ver o reinado de Rafa em Paris. 52 vitórias e apenas uma (!!!) derrota. Sete títulos em Roland Garros. Uma lenda. O hino espanhol (muitas vezes lembrado por mim das vezes em que acompanhei Fernando Alonso mostrando a Michael Schumacher que a Fórmula 1 tinha também lugar para outros “mortais”) e a feição de Nadal no telão. Juro, me emocionei. Era como se eu estava recebendo aquele troféu mágico.

Fiquei tanto na neura que não aguentei e visitei pela primeira vez o palco de tudo aquilo. Onde vi a história ser escrita nas poucas páginas em branco do livro dos recordes. Caminhei sobre aquela terra, sabia que não havia nenhuma diferença (nítida) entre aquele pó de tijolo e o das quadras perto da minha casa. Porém, é inegável que o cenário tem o poder de transformar tudo. As lembranças. O início. O meio. Por vez, o fim. Que saudades vou ter. Até de Robert, que fez o favor de tirar a minha última foto. Com a bela e agradável Suzanne Lenglen ao fundo. Köszönöm, barátom!
Um último adeus... foi tão bom enquanto durou!

Na saída, já viro a esquina a caminho do metrô e já perco de vista a cobertura da Chatrier. Pois é, foi bom enquanto durou! Um blecaute em uma das estações não me tirou a adrenalina ainda daqueles momentos. Consegui chegar, com atraso, até o destino por mais uma vez e deu tempo até para uma última refeição decente. O restaurante italiano foi o escolhido. Um vinho para acabar com chave de ouro, já que a frustração de não ter conhecido a bela Torre Eiffel nas alturas ainda me corta o coração. Ofícios da profissão! Sem mais...

Mala pronta (e que mala!) e me despeço do porteiro ao meio dia exato! Metrô, baldeação, RER e Charles de Gaulle. Como me dá emoção na janela do avião. Chuvinha que me deu boas-vindas me dá o prazer da despedida. Na companhia, os pais do juvenil Hugo Dojas (Leandro e Maria) me confortam por toda a duração do voo até Frankfurt.

Que viagem! Tão rápido passou e Brasil novamente. Merci beacoup, Paris!
Como me disseram, comprovei mesmo: “Que aeroporto gigante na Alemanha!” Até o horário do embarque de volta, me sinto em casa. Vários brasileiros aguardam por voos para o Rio e São Paulo. É gente de Belém, Brasília, São Paulo, Curitiba, Salvador... 12 horas e meia. Novamente num cubículo, assim como na ida, mas com melhor companhia! “Ladies and gentlement, welcome to São Paulo!” Nunca foi tão bom ouvir essa frase!

“Bem-vindos a São José do Rio Preto!” Nem acredito. Como passou rápido. Tão longe, tão perto. O sonho se tornara realidade. Tive o prazer de estar com pessoas importantes, influentes e até hegemônicas no cenário internacional. Considero-me um privilegiado. Uma viagem que jamais esquecerei. Assim espero, porque, assim como há 23 dias, ainda estou aqui! 



Por Matheus Martins Fontes
De São José do Rio Preto (Brasil)
15/06/2012

sábado, 9 de junho de 2012

15:04 - No comments

Lendas...


Atrasado. Irresponsável. Desapegado. Esses três adjetivos são justos quanto ao meu comportamento nos últimos dois dias e não vai ser eu que vai quebrar a escrita bem prezada por Sharapova (hoje tem que falar dela, não tem como!) de arrumar desculpas para justificar tal sumiço deste espaço. Tudo o que posso fazer é me redimir com um belo e exaustivo pedido de desculpas e encarar o enorme desafio de resumir a minha jornada nessas últimas 48 horas. Não vai ser fácil!

Relembrar tudo é uma utopia, até para quem não está na minha pele. E, para mim, que viveu as últimas horas (fora as que eu tenho para repousar o corpo cansado) no complexo de Roland Garros, o mais justo é falar de tênis. Me desculpem àqueles que me acompanham por viver o “diferente” do esporte. Hoje, vão ter que imaginar o “diferente” dentro dele. E, sim, isso é possível!

Neste sábado, Maria fez história na França. A musa chegou ao sonhado título de Roland Garros
Falar das semifinais pouco inspiradas de Nadal x Ferrer e, por incrível que pareça, de Djokovic x Federer (a qual achei que seria, de longe, a melhor partida do torneio – assim como aconteceu em 2011) é pouco e totalmente vazio para um tempo tão precioso. Para falar a verdade, os dois jogos citados “pouco” me atraíram e fiquei mais tempo na modesta quadra 2 do que qualquer outra. Ali mesmo, conversei com o grande Larri, que acompanhou de perto e cheio de lágrimas a pupila Bia Haddad chegar à final da chave de duplas no juvenil. Para se ter uma ideia, a menina de apenas 16 anos foi a terceira mulher do País a alcançar uma decisão de um torneio Major. O gaúcho não aguentou a emoção. EU me emocionei ao vê-lo emocionado, chorando, relembrando tempos áureos de Guga, o último a erguer um troféu aqui tanto no profissional (TRÊS vezes, por favor!) quanto no juvenil – em 94, foi campeão nas duplas ao lado de Nicolas Lapentti.

“É fruto de dedicação. O que estou trabalhando com essa menina é brincadeira. Lembrar que, em 97, estive aqui e vi o Guga vencer e agora estar aqui com a Bia é algo que me deixa assim”, falava Larri, claramente se segurando nas palavras.

Foram poucas palavras, mas muito prazer, Guga!
Quando volto ao reduto dos outros trabalhadores deste evento, levo um susto. Um “mané” de cabeleira conhecida sobe as escadas para a Chatrier. Não! Será? Vou conferir. Subo de dois em dois degraus e, de repente, não acredito. O irmão de Rafael, aquele que fez história no saibro aqui, que foi número 1 do mundo, o cara que me fez abrir as portas para o esporte pelo qual vivo minha vida está a um metro de distância. E eu? “Fala, Guga. Beleza, cara?”, arrisco. O que? Isso é coisa para se dizer para o cara que te inspirou a vida inteira? Antes de me xingar mentalmente, tenho certeza de que as poucas palavras aliadas a um sorriso maroto foram a arma certa para um começo de diálogo. “Tudo bem, cara. E você, tudo certo?”, responde o catarinense. Antes de me dirigir novamente, já entendo que o novo garoto-propaganda da Lacoste tem uma série de compromissos a cumprir. É pra TV francesa, é pro Brasil, é pra não sei onde. Incrível como valorizam o menino que pôs o nosso País no mapa do esporte!

Não posso deixar de mencionar outras lendas que tive o prazer de acompanhar a poucos metros de mim – coletiva do polêmico e também gênio John McEnroe, em que crê que Djokovic está sentindo a pressão por ter que vencer quatro Grand Slams consecutivos, a francesa Amelie Mauresmo, ex-número 1 do mundo, uma partida-exibição do croata Goran Ivanisevic, do sueco Thomas Enqvist, do gênio australiano Todd Woodbridge, que ainda mostram um bolão, e, é claro, a verdadeira enciclopédia ambulante Martina Navratilova, campeã de nada mais nada menos do que 59 Majors. Devem haver outros que não mencionei, mas os anteriores já explicam por si só cada momento precioso nesse torneio...

Tempinho para curtir com os amigos no jantar da imprensa - Robert (meio) e Karl (dir.)
Um intervalo na quinta-feira à noite para comemorar com os colegas de trabalho a festinha da imprensa em Roland Garros. Com direito a nome na lista. MARTINS FONTES, Matheus. Parece que já virei referência bibliográfica. Até parece... Jantar nem pensar. O que tem são petiscos (para mim, tranqueiras para forrar o estômago!) e bebidas. Cerveja aqui não curti muito, fiquei revezando com vinhos e champanhe. Meu amigo Robert – o fotógrafo húngaro – revelou ser mais fraco de bebida do que eu. E ai, hein? Quem é o “juvena” agora?

Tive o prazer de finalmente conhecer melhor o também “lendário” Chiquinho Leite Moreira. Esse sujeito também entende tudo de tênis e já cobre o Slam do saibro há décadas. Abriu as portas para a nação brasileira na cobertura do esporte.. e isso muito antes de Guga aparecer! Entre uns goles e prosas com os divertidos amigos argentinos, sou um dos últimos a sair de pé dali. Nada mal para o principiante...

No “quase” de Bia na decisão de hoje, ficou a lição de que o País pode, sim, ter mais lenha para queimar na modalidade. A menina, fã de Petra Kvitova e que se espelha, é claro, no ídolo Guga, é focada e está em boas mãos definitivamente. “Meu objetivo é ser a melhor do mundo no profissional”, disse. Loucura? Viajou na maionese? Não sei. É cedo demais para falar. Mas ver o que vi na quadra e com os “berros” do turrão da arquibancada, já vi um menino desengonçado lá de Floripa aprontar uns estragos assim...

Larri esteve a semana toda apoiando Bia. A jovem de 16 anos fez história para o Brasil em Paris
Confesso que cheguei a pensar que não veria a final feminina por conta da entrevista com Bia. Cheguei e Maria já estava bem à frente. Como foi ao longo deste torneio. Contestada no saibro (até por mim, confesso!), a grandona mostrou nítida melhora na movimentação para quem tem 1,88m, agilidade e não deu chance para as rivais. Na decisão, a pequenina e guerreira Sara Errani fez o que pôde, mas muito pouco para tirar a coroa da nova número 1 do mundo.

Se é pretensão demais comparar Sharapova com outras lendas do esporte, não é errado em dizer que a russa provou que pode, sim, vencer em qualquer tipo de piso. Seja na grama, no cimento, na terra, o resultado se mostrou o mesmo em, pelo menos, uma oportunidade – os joelhos da musa, sujos de terra neste sábado, são fruto de uma carreira marcada pela garra, competência e superação. Garra de nunca se contentar em ser segunda; competência de admitir que não é uma jogadora completa, mas sabe muito bem usar suas armas dentro da quadra; e superação por acreditar que, mesmo depois de uma séria lesão no ombro, ainda há chances de reeditar grandes momentos. Lenda ou não, Maria marcou seu nome na história e, pelo que demonstrou (e falou!), está longe de se dar por satisfeita.

Satisfeita? Longe disso, afirmou Sharapova
Neste domingo, qualquer que seja o resultado, Novak Djokovic ou Rafael Nadal farão história na Cidade-Luz. Aos mais leigos, caso Nadal vença, tornar-se-ia o maior campeão no torneio francês – com sete conquistas, ultrapassando o sueco Bjorn Borg. Se Djokovic conseguir o feito de ser o segundo jogador a bater Rafa no saibro parisiense, o sérvio, assim como Sharapova, fechará o Grand Slam – vencer os quatro Majors do circuito. Foi por isso que escolhi cobrir esse torneio. Para contar essa aventura. Parece que me vejo em janeiro, planejando minha viagem com meu pai. Era imaginando ver um cenário assim. Único. Histórico. Perfeito.

E, mesmo que o campeão seja definido apenas na segunda-feira – há grandes chances de chover amanhã -, já será inédito nos últimos anos. Com ajuda da organização, fiquei sabendo que o romeno Ilie Nastase bateu o iugoslavo Nikola Pilic numa terça-feira apenas em 1973.

Quer mais? Só vivendo... e tendo tempo para contar! 



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
09/06/2012 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

04:25 - No comments

Surpresas...


Vejo-me escrevendo às 9h da manhã desta quinta-feira já aqui em Roland Garros. Impressionante! Ninguém chegou, apenas eu e meu colega Robert. Ao pensar em um pouco de tudo do que me aconteceu no último dia, já adianto – o título faz jus às sensações...

Ao sair do metrô na última quarta, já me esqueço que os jogos principais começam a partir das 14h, porém eu disse “principais”. Os juvenis agitam o dia de quem se arrisca ainda (muita gente!) nas quadras menores. Chego na 14 pra ouvir novamente “Jeu, Montêêêrrrrro”. Porém, Larri está apreensivo. “Bate nessa bola, caralh@#%” é a primeira que já escuto do gaúcho tchê! Olho pro lado, me dá um dèja vu...

Tantas lembranças de Guga tive nesta quarta-feira. Primeiro foi Larri...
Recordo-me de quando comecei a me interessar pelo esporte, lá no longínquo ano de 1997. Em casa assistindo tevê com meu pai, o camarada me fala: “Ah, esse aí de verde-amarelo é brasileiro. Guga, me parece”, solta. “Que esporte é esse, pai?” “Tênis. Gosto de ver o Pete Sampras jogando”, ele continua. “Quem?”, espanto-me. E foi assim... Vendo (sem entender) aquele mané desengonçado vencer Roland Garros pela extinta TV Manchete, vejo o irmão Rafael na arquibancada ao lado de Larri. Quinze anos depois, revejo-o... do meu lado! Nem acreditei... “Vamo, cavalo!”, ele solta para um ponto de Thiago. Como fazia com Guga. Ah, bons tempos...

Nas cadeiras adjacentes, Jorge Lacerda e Aimar Matarazzo me fazem companhia e, logo depois, me chega o Dácio Campos. Como ele mesmo fala nas transmissões de SPORTV, eu o defino agora: “Que figuraça!” Monteiro e Gabriel Friedrich não têm um bom dia e são eliminados. Paciência! Na hora, vou correndo de volta para a Chatrier para uma entrevista com o indiano Mahesh Bhupathi. A maioria não conhece, é claro, porque o cara joga duplas e não deixa de ser um craque de bola!

...depois foi Rafael, irmão de Guga!
Nessa correria para abordá-lo, tive vontade de atropelar uns 10 que trancavam a passagem que já é estreita. Outra coisa que acabei deixando de comentar pra vocês. O complexo é charmoso, mostra um pouco da cara de Paris, o glamour, o tom romântico, a arquitetura com suas pinceladas únicas, porém entendo quando dizem: “É muito pequeno!”

Tudo bem, são 18 quadras – dois estádios magníficos (Chatrier e Lenglen) -, restaurantes, locais para boutiques, museu e tudo mais. Só que acho que não pensaram que a quantidade de pessoas atraídas pela genialidade do lugar não é compatível com o espaço físico. Na semana do quali, dava para transitar facilmente, mas a partir do começo do torneio, fica “infernalmente” impossível de uma corridinha para certos lugares. Você desvia de um, cai no outro, escapa daquele tapa de um, mas já está de cara para os “pirralhos” que ficam olhando pro céu. Nossa, que vontade que me dá de passar por cima. Lembro até da minha mãe quando ela fala isso no trânsito ao ser ultrapassada (erradamente) por motoqueiros!

Bom, o almoço é: carneiro! Não acredito! Tantos dias comendo “pasta” aqui, “pasta” ali (não estou reclamando), chegou o dia de pôr em prática o instinto carnívoro da coisa. Precisava falar pro meu pai, outro fissurado pela comida árabe! Mas minha tentativa falha para o bendito em reunião no Rio de Janeiro, assim como minha mãe em casa! Mas a oportunidade não me falta para matar (um pouco) a saudade de uma grande amiga! Dia cheio de surpresas, não é? Animou meu dia em uma Paris não tão bela com tempo fechado!

Maria revelou sua paixão por Paris
Logo depois, coletiva de Sharapova. Simpática como sempre, respondeu que ama o estilo francês e rasgou elogios a Paris: “Adoro como as pessoas levam a vida aqui. Elas sentam em cafés, perto das outras, conversam, estão a poucos centímetros dos carros que passam e é muito bom. Quem não gostaria de ter esse estilo de vida?”, comentou. Será, dona Maria? Você que já está americanizada há tantos anos? Sei que nada sei, vai!

Uma passadinha para ver Nadal x Almagro e simpatizo-me com Mariano, um fotógrafo argentino (sempre eles!) que já mora na França há algum tempo. Conta-me um pouco de sua trajetória e indaga sobre a minha... coitado! Estou apenas começando: “Meu primeiro Grand Slam”, resumo num espanhol vagabundo.

Olho no relógio, já são 21h e luz ainda em Paris. Quando Ferrer x Murray fecham o último jogo das quartas de final, entro no Facebook e faço contato com meu amigo Alan, que estava trabalhando em Lille, mas que agora veio para a capital até o final do ano. Nossa, havia uns bons dois anos que não o via. Quer oportunidade melhor? Pego o metrô e o encontro 40 minutos depois. Não mudou nada, parece que não perdemos contatos em quase 830 dias de ausência. E o homem já está por esses lados há um ano e meio.

Batemos papo, jantamos e, graças a Deus, o amigo fala um francês de primeira. Isso me facilita bastante quando a situação aperta. Já são quase meia-noite e prefiro passar a noite no apartamento do amigo e do “Parrudo” (como Alan o chama). Confesso que nem perguntei o nome, apenas o chamava de “manu”.

Longe de casa e só assim encontro meu amigo Alan. Não mudou nada hein, fi?
Trabalho me chama, assim é com eles também. Às 8h, estamos de pé e encarando o subsolo mais uma vez. Confesso que nunca vi um vagão tão cheio desde que cheguei. Tinham dois sujeitos que me olhavam com um desprezo ao me ver sentado e esmagado com as 10 outras criaturas em volta. Sim, aqui se entra muita gente, você tem que levantar! Isso o “Parrudo” me explicou e a gente só aprende na raça..

Vamos acordar, Roland Garros! Hoje é dia de semifinal feminina. Sharapova x Kvitova, Errani x Stosur. E tem um “God save the Queen” na parede? Pô... No mais, a gente se vê por aí.



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
07/06/2012

terça-feira, 5 de junho de 2012

16:27 - No comments

Lições...


Blusa na bolsa. Boa, a primeira meta do dia já foi cumprida. Frio... no more! Assim que boto o pé na rua às 9h46m, um sol de rachar. Não reclamo da “má sorte” de, agasalhado, pegar calor. Pode mudar. E vai mudar! Metrô, baldeação, troca de linha, já estou craque. Há muito tempo..

Dessa vez não erro a quadra. Vou direto na 14 ver o promissor Thiago Monteiro. Canhoto, firme dos dois lados. Centrado esse cearense de Fortaleza. Do meu lado, nada mais nada menos do que Larri, técnico do menino. Atento, o gaúcho, que levou Guga ao posto de número 1 e que ainda hoje carrega, de certa forma, esse peso, parece viver o jogo mais do que o garoto em quadra. Normal, era assim com o “manezinho da ilha”.

Bons tempos em que Guga e Larri davam tanta alegria para o Brasil!
Soltava de vez em sempre uns “judia dele, Thiago”, “tá bom vai”, “é essa a bola que eu gosto”, “spin nele”... Que presença! É com caras desses que a gente tem que aprender – a observar, analisar, trabalhar e, no último caso, avaliar. Minutos depois, uma multidão se aproxima. Eu vejo na quadra ao lado Toni Nadal, tio e treinador de Rafael. Sim, o homem vai treinar ali. A arquibancada da quadra de Thiago se transforma em uma passarela do cinema, todos querem conferir de perto o ídolo. Até Aimar Matarazzo, esqueci de comentar, não resiste!

Confesso que, de tantas coisas, me passou despercebida a presença do presidente do Harmonia Tênis Clube, clube que receberá os Playoffs da Copa Davis em setembro contra a Rússia. Na minha cidade! Tá bom, parei... Enfim, um bom papo com o amigo e já avisto outro dirigente importante – o senhor Jorge Lacerda, presidente da Confederação Brasileira. De uma vez, Larri, Aimar e Jorge... Melhor companhia não há para um dia!

É incrível como Jorge é uma grande pessoa. Nem falo que sou jornalista, mesmo com a credencial estendida no peito. Conversamos por minutos, acompanhando os jogos dos outros juvenis. No momento em que Bia Haddad e Laurinha Pigossi, duas promessas no feminino, jogam em quadras complementares, já aviso Jorge: “Você vê daí que eu acompanho daqui!”

Visão da imprensa na quadra Suzanne Lenglen para duelo entre Federer x Delpo!
Larri, mentor de Bia também, está lá. Uma figura. Reclama do juiz de linha com marcações duvidosas: “Ah não, caralh#@$”, “vai ver a marca, Bia” e não deixa de elogiar jogadas da menina de apenas 16 anos – “Olha que tênis, presidente. E tem gente no Brasil que reclama do nosso tênis!” Até eu largo a credencial por um (ns) momento (s) e vibro: "Mete a mão na bola mesmo, Bia!", "Vai, Laurinha!", etc... Já deu pra entender!

O almoço é às 16h. Uma baguete. Nada de especial. Ali mesmo na Suzanne Lenglen, subo a rampa e dou de cara com Federer e Del Potro. Que vista! Ao mesmo tempo, Tsonga e Djokovic na Chatrier. Queria mandar a organização ir pra aquele lugar quando anunciaram os dois jogos praticamente no mesmo horário... e, por coincidência, tiveram desfechos parecidos e simultâneos! De cochiladas e pescadas, vejo que o argentino abriu 2x0 sobre Roger. Uau!

Mesmo assim, o barulho da quadra central que conseguimos ouvir a uns 200 metros de distância e algumas toneladas de concreto como barreira me atrai mais. Pra se ter uma ideia, quando Tsonga teve set point no terceiro set (o telão na quadra de Federer avisava ao público), nem tivemos dúvidas se havia fechado a parcial ou não. A reação da outra quadra foi certeira. Simbora!!

Falei com Djokovic. Mais um feito para a viagem...
Juro que foi uma das únicas sensações de pena em Roland Garros que senti. A dura derrota do francês Tsonga abateu multidões por toda a França. Perder quatro match points é uma coisa que machuca demais para o jogador e, mesmo que o adversário tenha o crédito de ter atuado bem em todos os momentos cruciais (o que aconteceu hoje!), os franceses não mereciam. Afinal, já são (agora) 29 anos sem título para os donos da casa em Paris. “Foi a pior derrota da minha carreira”, resumiu a cena o emocionado Jo.

O final do dia ainda me reservava o prazer de perguntar a Djokovic, número 1 do mundo, quais eram suas expectativas em vir ao Brasil em novembro. Aos desinformados, sim ele virá! Simpático e mesmo cansado da batalha de mais de 4h, Nole respondeu. E por mais óbvia que possa ser a pergunta (e também a resposta), decidi perguntar. De prima...

E mesmo assim, há pessoas que gostam de cuidar da vida dos outros. Andei percebendo algumas indiretas “tanta pergunta pra fazer pro cara depois de um jogo desses e me perguntam se está animado para vir ao Brasil?” Tudo bem, pode ter sido um erro ter feito a primeira pergunta da coletiva, ou sei lá, podem ter imaginado que era uma pergunta idiota.

Mas, de certa forma, sou jornalista, não? Sou pago para fazer perguntas, para investigar, a estar nas coletivas, a levantar minha bunda da cadeira e ir para as quadras porque as coisas não caem do céu para a sala de imprensa. Se é o meu dever perguntar, o dever do jogador é responder nas entrevistas. Talvez não da forma que eu queira, mas algo ele vai me dar. A ética está aí em você fazer o seu papel e não passar por cima dos outros. Pergunta idiota? Idiota é não perguntar!

McDonalds na Laffayete foi a saída desta noite!
Mesmo um “foca” de 22 anos já compreende tais princípios. Talvez alguns desinformados do que acontece por esses lados devessem cuidar do seu e não se preocupar tanto com a rotina alheia. Todos agradecem! Desabafo feito (ou não!), volto para a estação e encontro brasileiros... de Itu! Guiam-me até a Galeria Laffayete onde faço minha refeição final no americaníssimo McDonalds. Ah, não poderia deixar minha viagem sem uma visitinha a ele.

Confesso que nunca fui fã, mas para uma noite chuvosa de terça-feira em Paris, o estômago fala mais alto. E eu? Bem, estou de blusa... e preparado para mais uma batalha!




Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
06/06/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

15:47 - 1 comment

Psicológico uma ova!

Se tivesse uma palavra para definir o dia, não teria dúvidas: “gelo!” “freezing” ou não sei ainda qual a palavra em francês que traduz o que senti nas últimas horas. Meu Deus! Ao sair do hotel, já percebo o quanto me faz falta um abrigo. Essa camiseta com manga curta não dá nem pro cheiro. Só descubro quando boto o pé para fora do vagão em Michel-Ange Molitor. A rajada de vento quase me traz de volta para o metrô!

Pra variar, erro a quadra em que Marcelo vai jogar sua partida de quartas de final. Ao me deparar com um pirralho de 1,90m entrando na 2, percebo a cagada que estou fazendo. Ao ver a programação, o 1 já era pequeno demais para os meus olhos na noite anterior! Ele nem entra em quadra pela chuva fina que cai na charmosa Paris que amanhece novamente de mal com o mundo. E eu sem blusa...

Cansei (no bom sentido!) de acompanhar as duplas em Paris. Melo (esq.) foi o melhor brasileiro!
São Pedro, ou melhor, Saint Paul aqui, creio eu, dá uma trégua e deixa as duplas entrarem e começarem o espetáculo. Bem, essa definição espetaculosa só foi para os italianos Bracciali e Starace, que não sei como não fizeram chover de novo. Na verdade, fizeram na metade do segundo set! Melo e Dodig pouco tiveram o que fazer. Não era para ser, mas uma campanha para se louvar em um Grand Slam.

Como frisou ao longo do torneio, Marcelo tem razão em dizer que o Brasil deve dar mais valor às duplas. Porque, vou ser sincero, acompanhei jogo de dupla pra caramba aqui em Roland Garros. É um jogo totalmente diferente das simples, os pontos mais curtos, a estratégia é mais do que fundamental, a química entre os parceiros e como as quadras estavam lotadas. Impressionante. É bom para ensinar um pouco a quem não tem cultura. Que sirva a carapuça em quem achar que deve...

O bom papo logo depois com Márcio Torres, técnico de Bruno Soares e também (descobri ali mesmo!) de Jamie Murray, me deu um pouco de orgulho com as palavras do mineiro: “Espero que você comece a mudar um pouco a mentalidade das pessoas de que dupla merece também destaque!”

Frio foi de matar. Em momento "era do gelo" na Lenglen
O almoço, dessa vez, teve a boa companhia de Robert, um fotógrafo húngaro que tive o prazer de conhecer aqui. Meu melhor colega, sem sombra de dúvidas, salvou-me de muitos apuros – na hora de ter um adaptador quando me lembro que esqueci o cabo da máquina no Brasil; na hora de imprimir os artigos para convencer a Comissão de que merecia a credencial permanente; nada mais justo do que rir com tantas as vezes que ele brincava: “Time is money, man” quando falava que passaria as fotos para meu PC em uma fração de segundos. Dou muita risada com ele. Inclusive, no dia em que aguardava a resposta da organização, ele me indagava: “E a credencial? Conseguiu?” Gente boa...

Logo depois do almoço lá pelas 16h, chego no fim da entrevista de Del Potro. Uns 30 jornalistas argentinos reunidos na sala principal de entrevistas. E eu? O único intruso.. e brasileiro! Que nada. Os caras até passam a sonora do hombre de Tandil! Em seguida, Sharapova toma o espaço da sala e novamente mostra porque é uma das unanimidades na hora de se entrevistar. Que simpatia inigualável! Para mim, é a favorita... pra ganhar!

Quando encaro o frio de 11 graus do caminho da sala de imprensa até a Suzanne Lenglen para acompanhar Nadal x Monaco (recuso Murray x Gasquet na Philippe Chatrier e um andar acima de mim!), vou com uma expectativa – escolho esse jogo porque “Pico” (apelido do argentino) está no melhor momento da carreira e quero ver como se comporta contra o hexa do torneio, por mais que sei que o resultado vai ser um 3x0 para Rafa. Mas que pena que deu do hermano. Nem viu a cor da bola. Um massacre. Até o 2x2 no primeiro set, estava bonito de se ver. Me falaram. Mas eu não estava lá. Só vi o desfecho. 16 games seguidos para o espanhol e um sonoro 6x2, 6x0 e 6x0. “Lamento por ele, que é meu amigo, mas o esporte é assim”, resumiu Nadal na coletiva. Pois é...

Tiozinho tentou, mas não convenceu no metrô!
“Andy Murray will be in the main interview room at 21:30h”. Na moral, não vou ficar no complexo até essa hora para acompanhar a coletiva do britânico. Com todo o respeito! Se o frio já me mata de dia, imagina pegar metrô às 22h? Ando cerca de 1km de volta à estação e pego o caminho de volta.. tremendo!

Após a baldeação na Havre Caumartin, me entra o mesmo músico que fui plateia há uma semana. Showzinho de sempre e ninguém aguenta mais. Ao descer na próxima estação, a surpresa: entra-me um sujeito com um cachorro. No mesmo vagão. Mereço né! Não entendo uma palavra do sujeito e me dá aflição ao vê-lo tentar superar o ruído dos trilhos na velocidade-luz do vagão. Troca a estação e está lá o cara falando. Na boa, é louvável que o cara ganhe no cansaço, mas chega vai...

Em casa! Ah, já não faço mais diferença de hotel ou algo do tipo. Agora, quero um banho quente! Cá entre nós, depois de uma “fria” como a de hoje, nada mais justo não?! E, sim, já coloquei a blusa na bolsa...


CURTINHAS:

Bom, já entramos na segunda semana do torneio e as quartas de finais estão definidas. No masculino, nem uma surpresa até aqui - os quatro primeiros estão vivos, até Murray que vinha aos trancos e barrancos e brigando com o físico está garantido após a vitória sobre Gasquet. Vamos aos meus pitacos.


Masculino:

É! Vai ser difícil para Nadal de novo em Roland Garros
Djokovic (SRB) x Tsonga (FRA)
Nossa, que jogaço! Chatrier ficará pequena para este confronto! No retrospecto, 5 a 5, então não preciso falar mais nada né! Arrisco em uma vitória do sérvio, em cinco sets! Vai ter morte na Bastilha francesa amanhã! Sem mais...

Federer (SUI) x Del Potro (ARG)
Outro jogo imperdível! O que me fod!#¨%@ é que acontecerá no mesmo instante de Djoko x Tsonga na central. Por mais que acredite na vitória do suíço, seria muito bom de ver Delpo em ação. Se bem que no US Open de há três anos, ninguém quase acreditava no argentino... e deu no que deu. Mas eu acho que Roger sinceramente passa, quiçá em sets diretos...

Murray (GBR) x Ferrer (ESP)
O britânico, que nunca gostou de saibro, vem lutando contra as costas, mas vem confirmando o favoritismo que é lhe dado como número 4 do mundo. Hoje, calou a Chatrier com triunfo sobre Gasquet. Porém, creio que Ferrer, o bom operário, leva a melhor na quarta-feira. Essa eu aposto em zebra. Bom, nem sei se seria uma listrada se acontecesse...

Nadal (ESP) x Almagro (ESP)
Por mais que "Nico" venha fazendo uma campanha promissora em Paris, não é páreo para o Touro. Aliás, acredito que ninguém seja no momento. Sem perder sets até o momento (e longe de estar próximo disso!), Rafa atropelou o amigo Mónaco hoje e, com todo o talento de Almagro levado em consideração, Nadal leva em três..


Feminino:

Será que chegou a hora de Maria em Paris?
Cibulkova (SVK) x Stosur (AUS)
A baixinha Cibulkova aprontou na última rodada e fez o que a italiana Alberta Brianti não conseguiu logo na estreia - tirou a número 1, Azarenka, do saibro parisiense. Jogo bom contra a versátil Stosur, atual campeã do US Open e que já fez final em RG há dois anos. Aposto na australiana em três sets.

Errani (ITA) x Kerber (ALE)
Pra ser sincero, só vi em ação a italiana. Lembra muito a compatriota Schiavone, a qual mostrou que a terra de Paris pode ser, sim, glória para as operárias sicilianas. Muita garra e dedicação nota 1000. Por outro lado, a germânica, canhota, merece respeito. Chegou surpreendentemente à semi em Nova York no ano passado e não é à toa que já está no top 10. Mesmo sem muita gente não lembrar.. Aposto na alemã. No terceiro set!

Shvedova (CAZ) x Kvitova (CZE)
Tudo bem que a cazaque eliminou a atual campeã Na Li nesta segunda-feira, mas não creio que será protagonista de nova zebra. Principalmente contra Kvitova, que vem em grande forma . Sem alvoroço, ela vem caminhando a passos largos no saibro francês e, quem sabe, não conquiste o segundo Slam da carreira? Aposto em Kvis em sets diretos...

Kanepi (EST) x Sharapova (RUS)
Por mais que tenha levado um baita susto no jogo das quebras sem fim desta segunda-feira, Sharapova é, na minha opinião, a quem vem mostrando maior potencial para o caneco no sábado. E é o único que ela não tem na sua coleção de Grand Slams, então fica algo mais especial ainda. Confesso que não vi ainda Kanepi em ação, nem hoje. Mas creio que já foi longe demais. Maria em dois sets..



Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
05/06/2012