domingo, 3 de junho de 2012

15:43 - 1 comment

Estava escrito!


Fim do dia. E que dia histórico! Não lembro bem de onde parei no último post, mas este é especial demais para depender de linearidade. Não importa como começa, como desenrola ou como termina! Só me recordo dela no meu peito. Por duas semanas ela foi minha companheira dia e noite, complexo e hotel, quadra e salas. O que um pedaço de plástico não faz com um ser humano... E hoje, com glórias, com suor (e haja muito disso!) ela vai ficar mais um pouquinho no meu pescoço!

Bom, voltemos de onde acho que parei. Ainda no sábado de manhã, acompanhei a vitória de Marcelo Melo. Que torneio ele vem fazendo e ao lado do croata Ivan Dodig que, para um CROATA, está mais do que soltinho. Até tá fazendo graça com a torcida brasileira.. frieza não é com ele não! Ainda bem. No papo, Marcelo (também conhecido como “girafa” pelos 2,03m) me revela que a campanha de quartas de final fará com que um amigo seja “obrigado” a pedir em casamento sua namorada de longa data. “Combinamos isso em um jantar em Belo Horizonte”, disse o duplista. E agora hein? Em Paris ainda? Sacanagem se não pedir. Brincadeira hein! Em briga de homem e mulher...

Fala se nem dei risada na hora que vi a cidadã?
No almoço, lá pelas duas e meia (aqui você perde a noção do tempo, não tem jeito!), sento em uma mesa sozinho e, de repente, uma juíza de linha me acompanha. Quem é ela? O pessoal mais ligado no tênis vai saber. Para não transformar em piada interna, explico: trata-se de uma baixinha, não sei se é japonesa, chinesa ou um dos inúmeros povos orientais, que arbitrou (o termo apitar no tênis é meio estranho) o jogo de Serena Williams na semifinal do US Open de 2009 contra Kim Clijsters.

Na ocasião, quando o jogo marcava 6/4 e 6/5 para Clijsters, Serena sacava em 15/30, ou seja, estava a dois tempos de perder o jogo. Após errar o primeiro saque, Serena foi para o segundo, mas antes de tocar na bola, pisou na linha de saque, o que é considerado irregular no tênis. A juíza de linha – a baixinha – gritou acertadamente “foot foult”, o que acabou dando o ponto para Clijsters. 15/40, dois match points para ela. No entanto, Serena se descontrolou e ameaçou a juíza com palavras ofensivas. Consequência: a árbitra de linha foi até a rede e comunicou a juíza de cadeira (quem manda mesmo no negócio!). Ela foi obrigada a dar uma punição a Serena. No tênis, as punições funcionam assim: quando você recebe a primeira, é verbal; a segunda, perde um ponto no game; a terceira, o game inteiro; a quarta, o set; e assim por diante.

Como Serena já havia tomado uma por ter quebrado uma raquete, levou a segunda, ou seja, perdeu o ponto. Mas como já estava 15/40.. fim de jogo! Trago em seguida o vídeo para entenderem melhor!


Mas na hora que vi a “moça” na minha frente no restaurante, não acreditei. Quase chorei de rir! E engasguei pra variar... Com muitos jogos para ver e citar – Gasquet x Haas em que cochilei por alguns momentos na Lenglen, ou o jogo de duplas de Bruno com a bela Gajdosova, relato Monaco x Raonic. Não o jogo em si, mas o barulho ensurdecedor que saía da vizinha quadra 1. Explico de novo!

Monaco e Raonic jogavam sua partida de mais de 4h na quadra 2, ao lado da 1. Ali, o bravo Paul-Henri Mathieu era empurrado por uma multidão dentro e fora da quadra (num telão fora do estádio) diante do espanhol “mala” Granollers. Era impressionante enquanto Monaco tentava devolver uma das bombas do rival na 2, dava para ouvir os franceses cantando “Allez Po-lo! Allez Po-lo!”. Era um verdadeiro grito de guerra e arrepiava, juro! Infelizmente Po-lo foi derrotado, mas foi aplaudido de pé pela massa napoleônica! Que experiência! Queria ver se fosse no Brasil...

Quando pisco os olhos, já estou no “dimanche”, no bom português, no domingo em Paris! Nem vejo o tempo lá fora, visto uma calça e sigo caminho até a estação. Sem blusa. Ah, como vou sofrer! A Cidade-Luz dá seu ar de mau humor, nublada... é um sinal para o dia decisivo? Tomara que não! Procuro uma “tabac” para comprar um cartão telefônico. Ninguém fala inglês (ou não quer falar!) e tampouco me explica! Só dando voltas por meia hora ao redor do complexo, acho uma e compro! O cara mal me dá direções. Tá bom né...

35 anos e muita vontade de jogar.  Esse é André Sá!
Piso em Roland Garros e bora ver dona Bia Maia, a grande promessa do tênis feminino brasileiro. O domingo reservou o início da chave juvenil em Paris (sim, até juvenil tem em RG) e Bia, de apenas 16 anos, não leva muito trabalho pra bater uma francesa na quadra 17. Havia mais frisson para acompanhar o treino de Tsonga na quadra do lado... Tive tempo para conhecer o pai de Bia, Airton. Gente boa. O grande Larri Passos (técnico de Bia) do outro lado e uma trupe de brazucas. Como é bom ver uma jaqueta verde-amarela!

Aproveito para dar um pulinho na sala de imprensa onde faço o primeiro contato visual com Lucia, a assessora argentina para quem entreguei a pilha de artigos que vão me ajudar a renovar minha credencial. Dou um sorriso rápido e sigo caminho até novamente a quadra 2. Infelizmente lá Bruno é eliminado nas duplas ao lado de Butorac. Marcelo, André Sá e mais uma galera estava lá no apoio ao amigo. Que legal – rivalidade em quadra, parceria fora dela. É assim que se faz!

Aproveito um tempinho depois do almoço “safado”, com direito a uma baguete e uma Pepsi, para conversar com André. Que carisma! O cara tem 35 anos e bate ainda um bolão. Pena que machucou justo no meu primeiro Grand Slam. Para ele já são tantos – 12º Roland Garros. Mas o bom é que ele tá longe de querer parar de contar. Depois, vou direto para a coletiva de Djokovic e Federer. Os dois tiveram trabalho hoje e venceram após perderem sets. Djoko, então, chegou a estar 2 atrás. Federer, sem comentários vai. Tinha um jornalista italiano que começou a falar as estatísticas do homem – 32ª vez seguida que o suíço chega a uma quarta de final de Grand Slam. E olha a resposta, ou melhor, o comentário: “Obrigado. Depois você pode me dar essa lista? Porque vai ser difícil eu me lembrar!” Gênio! Sem mais...

É só sair da sala de entrevistas que me dirijo ao banheiro. Na sequência, meu encontro visual com Lucia me dá um frio na espinha. Ao me ver, a hermana entra sala adentro indo pegar uma coisa. Que linda! Um pedaço de plástico na vertical (a credencial provisória era na horizontal!) e com um BRA do lado direito. Nem vejo a foto. “Tá aqui, fanfarrão!” Que sensação! É como se eu tivesse passado no vestibular de novo.. Não resisto! Saio da sala e vou ao banheiro! Fico parado por uns instantes. Até o cheiro eu faço questão de sentir. Nunca um odor de nada foi tão bom!

Credencial permanente fica na posição vertical! Eu consegui!
É um filme todo passando pela sua cabeça. Os jogos de Del Potro x Berdych, Tsonga x Wawrinka já assisto com prazer. Nem me preocupo com mais nada. Aprecio com moderação. Até Thiago Monteiro na modesta quadra 17 vou acompanhar! Sem comunicação imediata com os familiares, a saída é o Facebook! Sempre ele. Já basta! Minha alegria tem preço, literalmente!

A volta é de táxi por conta da chuva que já cai em Paris. O sujeito, fã do Paris-Saint Germaint e que me conta de Nenê só porque é do mesmo país que o passageiro, me leva até Levallois. A noite acaba em uma lanchonete aqui perto. Ao chegar, me deparo com uma briga do dono com uma mulher furiosa e que gosta de confusão. Não entendo uma palavra, mas nem quero olhar. Eu, hein? Até partir para a agressão, a mulher quer. Ouço apenas um “police” por parte dela e já penso em me mandar. Nem dá tempo. Ela é praticamente expulsa do estabelecimento e eu estou cansado demais para conferir quem estava certo ou não.


O que sei é que estou vivo! E a noite acaba em cervejinha. Ninguém é de ferro, não é mesmo?


Por Matheus Martins Fontes
Direto de Paris (França)
04/06/2012

1 comentários:

Sensasional amigo. To ansioso pelo próximo capítulo!

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